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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Devaneios que reconfortam



Devaneios que reconfortam



Você desejou me ver no chão, sinto muito em te decepcionar amigo.

Não tenho muito que comemorar, mas tudo bem porque ainda posso ver os outros felizes.

O outono chega e fico melancólico, mas ainda posso sentir a chama me consumindo e enquanto existir esse fogo queimando em meu peito saberei que tenho uma pequena chance de voltar a sorrir.

Dez anos se passaram e finalmente cresci, mas o inferno não foi esquecido totalmente. O que fazer?  Odiar a todos?  Odiar o mundo? Odiar Deus? – seria bem mais fácil - Deixo às respostas para os outros, pois meu ônus; comecei a saldar faz tempo.

O tempo é realmente curto - Ontem nem sabia me alimentar sozinho -.

Não tenho muito que comemorar, mas tudo bem porque ainda posso gerar poemas e parir poesias. 

Sou um homem limitado, de inteligência mediana, com uma vida limitada. Mas não precisamos de muito para viver, não é mesmo? Não há muito que fazer nessa vida, mas todos estão dentro do plano, não estamos? 

Quanto mais os dias passam, mais envergado ando, mas tudo bem porque ainda posso sentir a brisa fria que sempre nos reconforta - Ilusões continuam movendo moinhos -. 

Joguei à bússola fora, agora estou, finalmente, por conta própria. E a realidade não é tão distorcida quanto me confidenciaram os impressionistas. Não mais que uma frase desconexa num mundo que tenta achar alguma coerência.

Crescer é doloroso e por vezes te deixa disforme no reflexo do espelho, mas todos têm que enfrentar a estrada e seus demônios interiores. 

Você desejou me ver no chão, sinto muito em te decepcionar amigo, pois a frágil chama ainda queima em meu peito e finais de sonetos ainda me emocionam sem motivo aparente.

Marcos Martins.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Feliz ano morto





Feliz ano morto


Ouço na porta o cântico da realidade - Um coral que canta desafinado todas minhas frustrações do ano que está prestes a morrer. (Afinados são meus infortúnios).

Gostava mais dos anos dos dentes de leite, pois não me pegava em falecidos sentimentos. O único enterro que quis ir foi o que não pude segurar na alça do caixão.

Porque as feridas sempre se abrem um dia antes da morte do ano velho? Essas feridas que me moldaram ao longo dos tempos opacos, por vezes coloridos, esperançosos e confusos.

Imagens circulam aqui e acolá, me enchem, esvaziam-me, acolhem e beijão minhas lágrimas.

Meu corpo continua preso e sou tão consciente disso que sei que não adianta - por mais que sonhe nunca poderei voar com essas asas atrofiadas, que nasceram em minhas costas curvadas. (O nunca é malvadamente infinito).

Gostaria de ter uma agenda lotada para não ter que saldar a morte do ano velho que pari as duras penas – sem anestésicos –, o novo que chega com sua esperança, insuportavelmente, inocente. O novo. Com velhos lobos e novos figurantes, uns não tão novos assim.

Fico em teu velório, meu velho amigo, até o último minuto, até o último segundo em que você povoa a terra. No entanto, não vou segurar tua mão úmida e engelhada, nem corrigir as imperfeições das flores colocadas às presas em teu caixão. Lá fora, gritam por um nome que não é o teu, o teu já se esqueceram de pronunciar.

Feliz ano morto, vida nova;
Feliz ano morto, minha cara alma;
Feliz ano morto, minha fé flácida;
Feliz ano morto, todas as promessas que nunca vou cumprir;
Feliz ano morto, para todos que nesse dia sofrem por ainda estarem cheios de lembranças geriátricas, que lutam para se manterem, inutilmente, vivas antes da meia noite, porém, irão se perder nos labirintos de um corpo novo, de um ano novo, de uma vida esperançosamente confusa.


Marcos Martins.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Transmutar


Transmutar


Poesia marginal;
Poesia que transcende;
Poesia que incomoda;
Poesia que ascende.

Poesia que arranha;
Poesia que desprende;
Poesia que desconcerta;
Poesia que me entende.


Poesia morta não é poesia;
Poesia sem métrica é poesia;
Poesia sem rima é poesia;
Poesia que toca, penetra e faz um estrago dos diabos para todo o sempre.

Poesia, poesia, poesia.

Poesia para quem te quer;
Poesia para quem não te quer;
Poesia para te deixar com os sentidos dormentes;
Poesia para quem te ama; para quem te odeia; para quem te quer ver pulando do firmamento.

Poesia que liberta; que faz chorar; que dá forma a sorrisos de canto de boca; que te faz pensar que vale apena fechar os olhos e seguir sem ter medo de não olhar, porque você sente que sempre estará lá, por mais que seus pés não possam sentir e suas mãos não possam tocar.

Marcos Martins.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Mosquitos chupadores de vida



Mosquito Chupador de Vida


Quantos mosquitos você matou hoje?

Quantas vidas minúsculas se foram para saciar nosso egoísmo?

Quem segurou tua mão hoje?

Quantos anos faz que seguro tuas as mãos frias?

Será que você sabe o quanto sangro para te fazer feliz?

Quem conhece o amor verdadeiro poderia me dar um pouco, um simples gesto já me seria o bastante, já saciara minha orfandade. 

Eu sinto frio, mesmo errando pelo deserto. 
Sinto frio, um frio vindo de longe, vido do cosmo infinito. 
Me descobri e não estava preparado para perder.

Assim como a dor que a lua sente toda vez que vai dar a luz ao sol, meu trauma não tem cura, minha mente não tem cura, escrever não tem cura, mas me acalma e me entristece;

Torna-me um homem; 
Torna-me um ermitão;
Torna-me mais morto; 
Torna-me mais vivo;
Me dá uma existência paradoxal. 

Faz-me chorar, me faz chorar, por favor, essa é a única coisa que ainda me faz sentir-se humano – Drenar-me o sangue, não me faz mais.



Marcos Martins.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PENÚLTIMO DESEJO


PENÚLTIMO DESEJO


Quero uma tesoura para cortar os laços quem me amarram os pulsos. Preciso de uma tesoura bem amolada para cortar essas amarras que me sufocam.

Preciso de uma poesia forte que me preencha e me faça sentir-se menos morto. Mas a morte sempre me ronda, flerta comigo.

Pássaros não cantam felizes em gaiolas, apenas catam para continuarem sendo alimentados, são atores.

Preciso de uma faca bem amolada para cortar os pulsos e libertar esses laços que estão presos a eles, esses laços merecem a felicidade.

Quero, em meu penúltimo desejo, me atirar ao mar para lavar todo meu ser. E no último desejo poder recomeçar sem esses laços que precisam tanto de liberdade, tanto quanto os pássaros que fingem ser felizes atrás das grades que abafam seus cantos, abafam seus pedidos de socorro.

Marcos Martins.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Diário de um Moribundo - Mais um trecho de meu livro (reescrevendo)


(...)

Ruth levantou, era noite, fiquei triste, mas deixei-a partir. A cama vazia me deixou enfermo, me deixou gelado por dentro. Se eu chorar, ninguém vai saber, se eu morrer, ninguém vai notar. Só me resta escrever um de meus lixos para que todos saibam que me sinto morto e finjo estar vivo.


VII


Como me sinto – Solidão -;
Como me sinto – Inquietação -;
Como me sinto – Insegurança -;
Como já me senti – Esperança -.
Como me sinto doente, sem cura. Eu vejo a cura e temo usá-la. Será realmente cura? Ou mais uma falácia no fim do arco-íris? 


***


Como queria ser normal e tirar essa maldição poética de mim, poder sentir de forma normal a vida e não enxergar essas entrelinhas.

Estou com muito medo, pois acho que vou amar. Junto com meus amores sempre chega à dor, inquietação em meu cérebro, coração palpitante, mãos suadas e trêmulas - são mau agouro - Faz tempo que não sinto isso.

Ponho-me a pensar num amor que pode me consumir outra vez, igual a todos os que senti e sofri; igual ao que me arruinou.

Gostaria de estar morto às vezes, mas sinto tanta vida reprimida em mim que me dá pena em saber que sou um morto vivo.

Talvez esse amor que temo sentir me tire do escuro, ou talvez me ponha em cima do muro do murmuro, onde seu eu cair nunca mais me levantarei.

O que gostaria mesmo era de um beijo com gosto de desejo, com gosto de amor, sem o gosto de saliva que sempre senti. Das bocas que beijei apenas uma, não sei, talvez tenha sentido mais que saliva, mais que saliva em meus lábios frios.

Se não me amas, não finja que me deseja;
Se não me amas, não me olhe assim;
Se não me amas, não finja me dar esperanças, me deixe viver triste como sempre vivi.

(...)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um trecho de meu livro, que estou reescrevendo: Lugar Nenhum Paraíso Distópico



Seis horas da manhã, o despertador acha que me acorda, mas dessa vez o enganei. Passei à noite toda em claro, pude ouvir todos os sons da madrugada, alguns foram bem assustadores, no entanto, o silêncio me incomodou bem mais, pois me dava à sensação de impotência e incerteza que os rumos de minha vida estavam tomando.

– Lázaro! Lázaro! Já são seis horas! Acorda Cinderela – gritava Tio Paulo da escada, errado dessa vez por achar que eu iria me atrasar como o de costume, pois dessa vez já estava de pé e sem nenhum sono – apensar de não ter dormido direito.

– Já sei Tio, tô indo! – gritei do quarto pegando uma tolha.

Vou ao banheiro, tiro toda a roupa, mas mesmo assim me sinto vestido, me olho no espelho do banheiro “Não sou mais um menino”, penso, ao ver minha barba por fazer. Apesar de ter pouca idade, minha barba já era completa e mesmo sendo rala não tinha uma única falha.

Abro o chuveiro – nada como uma boa ducha fria para desperta todo o corpo – ao me molhar volto a sentir um queimor, agora bem mais desconfortável, em minhas costas, estico o braço e toco onde está ardendo, percebo algo, uma protuberância, uma espécie de cicatriz, como se eu tivesse me arranhado em algum lugar. Saio do banho, tento ver no espelho o que é – é uma cicatriz de mais ou menos quatro centímetros na parte direita de meu dorso, lembra um arranhão feito por uma unha, “Teria sido Ainá?”, me questiono. Não podia ter sido ela, pois a cicatriz parecia estar cauterizada.

– Vou terminar ficando louco – digo para meu reflexo e ele apenas me olha – Será que estou louco ou apenas sonhado? Se for um sonho alguém tem que me acordar.

Penso em me beliscar, aproximo os dedos do braço... E se não for um sonho, se tudo isso pelo o que estou passando for real?

Você já sentiu como se estivesse acordado, mas com a sensação de estar em um sonho? Pois bem, é assim que tenho me sentido ultimamente. E se eu tiver morrido? E se eu estiver em coma e esse beliscão puder me fazer despertar? Não, não, não! Sempre que vejo pessoas sorrindo para mim elas estão tão felizes, mas se tudo só for aparência, se tudo for à ponta de algo tristemente maior... O que posso fazer? Nada posso fazer só esperar que esse tal de Gildo me diga algo que acabe com tudo esse pesadelo.

– Lazaro! Vai morar ai é menino! – os gritos de Tio Paulo me tiram do transe tempestivo, mas a sensação de estar vivendo um sonho não passa por completo. 

Termino de tomar banho, sem coragem de me beliscar e ter certeza de alguma coisa.         
            
(...)

Marcos Martins.

domingo, 3 de novembro de 2013

Mais um filho que nasce. Trecho de mais um de meus livros: "A democracia dos derrotados"


  

(...)
 
- Você agora acha que é escritor, Roger? – perguntou Soluço com sarcasmos na voz.
 
- Não, não sou - respondeu Roger ao que deixou todos surpresos.
 
- Não? – entoaram em coro, quase como um mantra, todos os que lhe conheciam e estavam no inferninho.
 
- Não acho... Eu sou escritor. – ao que respondeu Roger com força e impostando a voz.  
 
Fez-se um silêncio sínico por algum tempo e logo em seguida, gargalhadas debochadas e risos com escárnio criaram um eco tão forte no local, que até quem não ouvira Roger responder a provocação começou a sorrir. Ele retraiu os ombros e curvou-se, criando uma elevação na camisa que dava a entender que tinha uma corcova enorme em suas costas, foi então que a sensação de que a vida lhe tirara tudo, até o direito de sonhar, havia sido implantada em seu coração.
 
(...)
 
Marcos Martins.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mais uma obra nascendo em minha mente tempestiva

"Eu não tinha grana, não tinha talento, tinha apenas um punhado de milho em minhas mãos e galinhas morrendo de fome ao meu redor, confabulando para me dar uma rasteira e me tomar tudo".


O imaginário desfabuloso de um João ninguém. 
Marcos Martins.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Mais um trechinho meu livro: Lugar Nenhum - Paraíso Distópico


***


Seis horas da manhã, o despertador acha que me desperta, mas dessa vez eu o enganei, não foi preciso, passei à noite em claro, pude ouvir todos os sons da noite, alguns me assustaram.

– Lázaro! Lázaro! Já são seis horas! Acorda cinderela – gritava Tio Paulo da escada, errado dessa vez por achar que eu iria me atrasar como o de costume, dessa vez já estava de pé e sem nenhum sono.

– Já sei Tio, tô indo – gritei do quarto pegando uma tolha.

Vou para o banheiro, tiro toda a roupa, mas mesmo assim me sinto vestido, me olho no espelho do banheiro “Não sou mais um menino”, penso ao ver minha barba por fazer. Apesar de ter pouca idade, minha barba já era completa, apesar de rala não tinha uma única falha.

Abro o chuveiro – nada como uma boa ducha fria para desperta todo o corpo – ao me molhar sinto uma apequena ardência nas costas, estico o braço e toco onde está ardendo, sinto algo, uma protuberância, uma espécie de cicatriz, como se eu tivesse me arranhado em algum lugar. Saio do banho, tento ver no espelho o que é – é uma cicatriz de mais ou menos quatro centímetros, lembra um arranhão feito por uma unha, “Teria sido Ainá”, me questiono. Não podia ter sido ela, pois a cicatriz parecia estar cauterizada.

– Vou terminar ficando louco – digo para meu reflexo – Será que estou doido ou apenas sonhado? Se for um sonho alguém tem que me acordar.

Penso em me beliscar, aproximo meus dedos de meu braço, mas se não for um sonho, se isso tudo pelo o que estou passando for real será uma grande decepção. Você já sentiu como se estivesse acordado, mas com a sensação de estar em um sonho, pois bem, é assim que tenho me sentido ultimamente. E se tudo for um sonho mesmo... Se eu tiver morrido...? E se eu estiver em coma e esse beliscão puder me fazer despertar...? Não, não, não! Sempre que via as pessoas sorrindo para mim elas estavam felizes, mas se tudo só for aparência, se tudo for à ponta de algo tristemente maior... O que posso fazer? Nada posso fazer só esperar que esse tal de Gildo me diga algo que acabe com tudo esse tormento.

– Lazaro! Vai morar ai é menino! – os gritos de Tio Paulo me tiram do transe tempestivo que estou tendo, mas a sensação de estar vivendo um sonho não passa por completo. 

Termino de tomar banho sem coragem de me beliscar e ter a certeza da alguma coisa.            

(...)

Marcos Martins.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Trecho de meu livro: Lugar Nenhum - Paraíso Distópico


(...)

Fiquei deitando na cama por mais alguns segundos, tentava conseguir juntar forças para me levantar. Você tem a certeza que não é dono de si, quando está doente, as enfermidades são ótimas doses de humildade a pessoas soberbas, mas eu não era soberbo e era isso o que fascinava – o verdadeiro socialismo sendo aplicado na prática, de uma forma diferente é bem verdade, mas você pode me dizer que o vermelho que você enxerga pode ser diferente do que eu enxergo, mas no final tudo é vermelho ou foi denominado assim, é o que acontece com as enfermidades, para elas não importa seus status, cedo ou tarde pode acometer qualquer um.

Finalmente consegui ficar de pé, abri a porta do quarto, olhei para o corredor – tudo parecia dentro do normal –, segui para as escadas, andava meio cambaleante, me apoiava na parede e assim consegui ficar quase que totalmente ereto – agora eu já sabia podia imaginar a força que nossos antepassado desprenderam para poderem se tornar homos erectus –. Descer a escada não foi uma tarefa fácil, minhas pernas tremiam como que se forçando a sustentar meu corpo – era uma tarefa ingrata. Ao chegar enfrente a porta, respirei fundo, tentei me por de forma altiva, não queria que Ainá se preocupasse ao me ver naquela situação, abri a porta e fiz um esforço redobrado para manter a pose, tinha que fingir que estava tudo bem, mas não estava.
  
– O que você tem? Parece que viu um fantasma – me questionou Ainá e todo meu disfarce foi por água a baixo, mas no final me senti mais aliviado.

– Nada, entra – respondi já com os ombros caídos.

– Trouxe nosso jantar, mas não sei se você vai querer comer – dizia, com uma caixa de pizza quatro queijo nas mãos. Aquela morena flor de canela ficava linda segurando uma caixa de pizza, mesmo sem estar com um refrigerante, mesmo assim, ela segurava de uma forma tão sensual e angelical ao mesmo tempo, que minhas forças começavam a retornar. “Graças a Deus esse mal estar não danificou meu libido”, pensei.

– Porque você tá me olhado assim – me interpelou de uma forma doce.

Fiquei parado por algum tempo, contemplando-a, não sei quanto tempo, mas o que é o tempo se não um motivo para se comprar espelhos e tinta pra cabelo. Aquela era a visão da perfeição em forma de mulher e eu era um cara de sorte por ela fazer parte de minha vida. Ela me sorriu – sereias encantavam homens com seus cânticos, Ainá, com o sorriso. 

(...)

Marcos Martins.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Mais um trechinho de meu livro, que estou reescrevendo: Lugar Nenhum - Paraíso Distópico



(...)

Mudei de cor ao ouvir a pergunta de Ainá, então não tinha sido um sonho, eu não estava louco, alguma coisa estranha tinha acontecido em meu quarto, algo que me deixou impotente em cima da cama, algo que fez meu coração acelerar ao ouvir a pergunta da Ainá.  
– Então não foi um pesadelo... Você viu o que? – disse segurando Ainá pelos ombros.
– Você tá de brincadeira, não está, Lázaro? – continuou – Quer dizer que você não viu o show de fogos de artifícios dentro do teu quarto, achei que você tivesse instalado aqueles globos que tem em festas e dão um efeito meio que de calidoscópio, jogando luzes pra tudo quanto é lado.

Ela não estava brincando, você sabe quando uma pessoa está brincando e ela, definitivamente, não estava brincando comigo, se ela fosse uma atriz ou política, eu ficaria com o pé atrás, mas Ainá não costumava brincar com coisas sereias, se ela viu, ela viu, e eu senti, eu senti.
    
– Não, não estou de brincadeira – fiz uma pausa para reflexão –. Não sei o que era. Não consegui ver o que era; apenas senti e fiquei imóvel na cama, como um sapo vivo sendo dissecado sem poder abrir os olhos.
– Você não viu aquelas luzes? – perguntou mais uma vez incrédula.
– Juro por Deus que não, Ainá – disse, com os olhos arregalados e as pupilas tremulas.
– Lázaro, você tem certeza de que não viu nada? – ela queria uma confirmação sem hesitação. 
– Juro por meus pais – falei de forma enfática. 

Ainá levou as mãos à boca e comecei a ficar ainda mais nervoso, cheguei a pensar que estava ficando louco, mas se eu estivesse ela também estaria. A única coisa que pude fazer naquele momento foi abraça-la com força e dizer, mesmo que sem acreditar em minhas palavras, que tudo ficaria bem.

(...)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Deixa a escova sobre a mesa e venha coçar minhas costas, pois nada mais importa; nem os títulos, nem os túmulos


Deixa a escova sobre a mesa e venha coçar minhas costas, pois nada mais importa; nem os títulos, nem os túmulos


Me larga, deixa que eu me vá, me desmanche e permita que eu seja levado como poeira;

Me larga, deixa que eu ande sem rumo, sem um lugar certo para repousar minhas chagas;

Me larga, deixa que eu use o gerúndio, não importa se vou estar fragilizando a poesia;

Me largar! Me deixa tocar as estrelas, me deixa contar as estrelas, pois sei que em uma delas há de existir vida que vá-lha a pena salvar; 

Me larga, deixa que eu seja feliz dentro de toda essa loucura que é a minha tua, nossa vida;

Me larga que eu quero sorrir, que eu quero não ter medo, não ter culpa, não ter ira, não ter nada e mesmo assim não me sentir vazio;

Me larga, deixa tudo como está, onde tudo deve ficar – dentro dos universos quânticos –.

Não importando o peso da poeira que paira;

Não importa o cheiro da poeira e do mofo;

Não importa os títulos sem sentido para quem vê por entre as brechas dos universos paralelos; para quem senti, mesmo sem tocar.

A poeira me mostra que os tempos passaram e que valeram a pena sangrar, errar, chorar.

Tentar, tentar, tentar. Desistir. Voltar a tentar.


Marcos Martins.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Mais um livro que vai nascendo. Aguardem...


(...) E então é assim, em um dia de sol você morre e tudo deixa de fazer sentido. Às horas não importam mais - porque não existem relógios no infinito -, isso é bom e ruim, pois todos os salvos adoram não ter que cumprir horários no paraíso, enquanto os menos afortunados, por terem saído das caverna com bússolas, não gostam da possibilidade do eterno. (...)


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mais uma parte de meu livro: Diário de um Moribundo (reescrevendo)


(...)

Quando se descobre o motivo, não há mais motivos para tudo isso. Será certo partir sem dar adeus?

Partir no escuro só é seguro quando se tem certeza de luz no outro lado, não tenho certeza, é só a certeza que tenho - À incerteza -.

Não me vire mais às costas, por favor! Não me negue! Sou tão triste e só, sou só eu minha sombra. Olha para mim! Só uma vez, só uma...

...Não quero amor, respeito ou amizade, só um olhar me seria útil, saberia que você me nota, saberia que não sou tão invisível.

O crepúsculo noturno é quebrado, é invadido, violado, não sei como me defender. Estou só e inseguro. Experimento as trevas todos os dias.

Olha pra mim! Só uma vez! Só com um olho! Só com um olho...

...Todos os surdos juntos ouviriam meus gritos e nada de você sinto. Um olhar! Não tem que ser paterno ou materno! Só um olhar...

Não queria dizer isso, mas vou embora, vou pro meu mundo destruído, adeus e não olhe para mim enquanto estou indo, não olhe para mim, eu suplico.

Minha paranoia me deixou louco, me deixou em conflito, tento tanto ser expelido. O dia se aproxima, eu sinto, sei o que devo fazer, eu sinto.

Vou destruir meu mundo, meu mundo imundo e fictício, meu, que não queria que me pertencesse.

Ando pelas ruas e noto todos os rostos felizes, se pudesse os roubaria para mim, mas nada posso fazer e não é justo, não é justo. Vou continuar andando e admirando todos esses rostos felizes, são tão felizes, tão felizes e nem notam o meu tão triste.

(...)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Trecho de meu livro: Diário de um moribundo.


***

Quando estamos vivos, o processo de decomposição é lento e doloroso. Esgoto, esgoto, meu arroto, meu corpo, não sinto, sentido, não sinto, abismo, persisto. Eu não sou louco! Estou louco? Meu filho, onde você está? Não lembro mais o rosto do meu filho, meu Deus! Essa foto desbotada é ingrata, não me mostra como ele está agora. Ah! Como queria tocá-lo, como eu queria.

Não o vejo a uns... não sei quanto tempo faz. Há quanto tempo estou aqui? Como será meu rosto agora? Eu temo me enxergar no espelho, temo por todos esses anos. Quem perdeu a noção do tempo não tem tempo para ver às horas. Meu relógio parou há quatro anos. Só agora percebo. Tanto tempo. 

Sempre me sinto um inútil quando sinto o passar do tempo. Não tenho nada do que me orgulhar. Os momentos bons de minha vida estão perdidos. Me toco, já não me sinto.

Quando tudo começou? Não lembro o fim e o começo. Essas palavras são nomes para nossos desapontamentos, desapontamento...

Você já se sentiu estranho? Como se não pertencesse ao mundo? Todos te olham, mas não te notam. Você acha que eles te percebem? Você é anônimo, embora vários olhos te vejam você é anônimo, pois esses olhos não te conhecem, não sabem o que você sente.

(...)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Trecho de meu livro, que já venho publicando em meu blog. (ainda escrevendo o danadinho)


***


O sol já despontava menos tímido, pessoas começavam a circular com mais frequência e frenéticas passam umas pelas outras sem dar bom dia, sem se olharem nos olhos - quem se importa com estranhos que não estão nos programas dominicais? Carlos segue para a próxima parada de ônibus – “Ser pobre é uma merda”, pensa. Ao chegar à parada, vê algumas crianças cheirando cola - o cartão postal que topo político gostaria de por em baixo do tapete persa - ele fica entretido com a felicidade entorpecida dos garotos de rua e sente uma ponta de inveja, não sabe o porquê, mas se sente um inveja dessa liberdade, por mais faminta e entorpecida que possa ser. Eles podem voar e Carlos preso ao chão, preso a sua vida insípida. 

O ônibus chega, ele sobe, não há lugar para se sentar, vai em pé toda a viagem, mas não acha ruim, dessa forma pode apreciar a vista, as formas, o concreto, o asfalto cheio de emendas mal feitas, os não lugares e pessoas que passam, passam e passam sempre apresadas, quanto a ele, não há pressa, a menos que sua mãe comece a cheirar mal, mas ela está bem guardada, levará algum tempo até quererem enterra-la como indigente. A vontade de estar se dirigindo a outro lugar o toma e um calafrio aponta em suas costas. “Não consigo imaginar como ela está”, diz para si. Não consegue chorar, talvez seja o ônibus, talvez seja a poluição ou um vírus que os países europeus tenham lançado na América Latina, quem vai saber dessas coisas, no entanto, sabe que gostaria de estar sonhando, mas sonhar tem sido cada vez menos permito. 

O ônibus corta a cidade, pessoas sobem, descem, voltam a subir em outros coletivos - nossas vidas passam - e por vezes os motoristas queimam as paradas, então você é privado de descer, de subir, de viver, mas nunca de morrer. Felizes são os que morrem velhos, já lhe disseram várias vezes, mas Carlos não vê vantagens em envelhecer, os velhos só são respeitados por financeiras e essas não têm coração. Envelhecer foi o castigo de Deus para com a maldade humana, era nisso que Carlos acreditava, mas ele amava sua mãe, não a tratava mal, ele amava sua coroa, como a chamava carinhosamente em segredo, apesar de todo o distanciamento. 

O câncer em sua mãe não havia devorado apenas seus órgãos, também devorava Carlos, e Carlos que sonhava em ser vegetariano sabia que, assim como o câncer, não podia voltar e concertar os copos quebrados. A verdade era que sua mãe havia morrido e seu único filho tinha desaprendido a chorar em alguma parte de sua existência.

(...)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Mais trecho de meu mais novo livro. (ainda escrevendo esse danadinho)


(...)

Chegou à porta do quarto da mãe, lembrou que não entrava ali há muito tempo, sentiu a mesma sensação que sentia ao entrar em hospitais, mas não havia tempo para medos, traumas ou remorsos, ele precisava entrar e escolher a roupa que, supostamente, seria a preferida da mãe. Abriu o guarda-roupa e várias possibilidades entre cores clara, escuras e neutras se apresentaram, desejou ter vindo com Julia, mas ela nunca iria à casa de um estranho para escolher com que roupa a mãe dele deveria ser enterrada. 

(...)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mais um trecho de meu livro. (Ainda escrevendo esse danadinho).


***

“Preciso de um banho” – falou e foi para o quarto pegar uma toalha e roupas limpas para voltar ao hospital.

Entrou no banheiro, se despiu, olhou-se no espelho da pia, notou que não estava tão velho, mas não era mais um garoto. Perguntou-se por que não sentia vontade de chorar e sim de gritar. Entrou no chuveiro sem descobrir o que era aquilo que estava sentido. Seria medo? Não, medo tem cheiro de urina e ele não estava cheirando a urina e sim a suor.

Girou a torneira do chuveiro e sentiu a água a lhe molhar o corpo, a água não servia apenas para molhar o corpo, mas também para esconder lágrimas, porem, eles não se revelaram. Observou um mosquito pousado no azulejo do banheiro, se tremendo todo, e com um único golpe acertou o inseto em cheio. O mosquito morrera grudado no azulejo. “E assim nasceria um fóssil, se nosso mundo terminasse agora” – falou antes de encher a boca com água e cuspir no defunto com asas.

A água não estava fria, mas também não estava morna e sim aceitável ao corpo remoído de Carlos. “Mães não deveriam morrer” – disse enquanto ensaboava o rosto.

(...)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Poesia - Macular


Macular


Dê-me as chaves da porta dos fundos.
Não, não quero ouvir seus conselhos valiosos.
Não, não tenho mais para que rezar – estou em paz com o cosmo -.

Quero ter tempo para respirar, essa gravata que me sufoca, essas contas que me sufocam, essas calças, esses olhos, esses sorrisos, essas cobranças, essa porta dos fundos que não abre...

...Escolhas, escolhas, reprovações, reprovações, escolhas.

Dê-me essa chave da porta dos fundos, quero sair por trás, quero viver por trás das montanhas do sucesso, quero ser um pastor de ovelhas sem lã; quero ser um pescador num oceanos sem peixes; quero que essa porta se abra e me deixe sair de cabeça baixa pela vida.

Se arrependimentos matassem, eu seria um mártir, mas eles apenas ferem, eles apensas dilaceram meu tecido adiposo e, por isso, não consigo mais sentir calor.

As ruas por onde não andei;
As casas que temi entrar;
As prisões;
Os muros que nem tentei transpassar;
Pelos fundos da casa posso ser mais feliz. Posso ser feliz.

Agora que tenho as chaves, que abri a porta, não sei se quero sair - me acostumei no cárcere - me acostumei a viver na parte rasa do lago. 

Depois de todos esses anos, o que aprendi foi que poemas entristecem mais do que acalmam a alma, que apertos de mãos podem nos passar mais germes que solidariedade e que fotos de família são felizes quando estão seguras em álbuns empoeirados, dessa forma, ninguém se machuca. E os sorrisos, mesmo os forçados, não são maculados.

Marcos Martins.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Febre do Rato (2011)

Texto fantástico sobre o filme "Febre do Rato", do diretor pernambucano Cláudio Assis, no blog Cooltural, do blogueiro Ademar Júnior. Quem ainda não viu o filme, vai querer ver. Quem já viu, vai querer assistir novamente. 

padrao

O Mangue Beat é um movimento de contracultura que surgiu na década de 90 em Recife, como forma de denunciar o descaso econômico do mangue e a desigualdade social da capital pernambucana. O movimento fortaleceu-se através do músico Chico Science, famoso pela mistura musical do maracatu com hip hop, funk e música eletrônica. A agitação causada pelo Mangue Beat foi tão grande que logo contaminou as artes plásticas, a moda e até mesmo o cinema.

O diretor Cláudio Assis é sem dúvida um dos maiores representantes, não somente do cinema Mangue Beat, como também do próprio cinema pernambucano. Sua carreira cinematográfica é marcada por obras cheias de nudez explícita, palavrões e histórias cruas. Em Febre do Rato, seu último longa, temos todos esses elementos aliados a uma poesia suja e marginal.
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segunda-feira, 1 de julho de 2013

A você


A VOCÊ


Hoje ele estaria completando três anos se estivesse vivo ou viva. Não sei se era ele ou ela, mas sim era vida. 

Como eles conseguem correr tanto com pernas tão curtas? Nunca descobrirei o truque, se é que existe um.

Como eles conseguem sorrir e sorrir e sorrir e sorrir, enquanto o mundo explode? Eu sei; o louco, o monstro, somos nós. E eles não riem para nós, eles riem de nós que esquecemos o segredo de sermos felizes com tão pouco, que esquecemos como foi bom aquele pequeno e terno momento da inocência.

Hoje, ele ou ela estaria completando três anos se eu não tivesse que sair correndo na chuva para esconder as lágrimas. 

Como eles conseguem soltar aquele sorriso gostoso se o mundo explode lá fora? Se tivesse essa resposta, talvez não estivesse escrevendo essas linhas angustiantes.

Três anos a mais, três anos de vida a menos, e a partir de agora risco o número três de minha vida, mas não risco a vida que um dia sonhei em ter em meus braços. 


Marcos Martins.

sábado, 29 de junho de 2013

Mais sobras


MAIS SOBRAS



Continuo a gostar dos poemas que sobram no papel - não tem jeito -, daqueles que escorrem por entre as pontas dos dedos, como se fossem cavalos selvagens em busca de pastos, e fazem a conexão entre o cérebro e o papel. Até flerto com as rimas, com as métricas e estilos, mas só me deito com os versos livres, os de maiores períodos, com um ponto que não finda nada.

Gosto do poetar errante, daqueles que perturbam os recatados. Amo Florbela, mas é um amor contemplativo, prefiro mesmo é deitar com os versos sujos do velho Bukowski e fazer orgias, desprevenido, com todos eles. Prefiro ser bolinado pelas consoantes das poesias de Walt Whitman e me sentir vivo, me sentir nu, parte de algo maior que não se importa com minha pequenez, mas me deixa Ser e Estar.

Amo, incestuosamente, meus versos, pois é parte de mim, parte de meu livro biográfico do por vir, do que sou; de partes de mim que ofereço em holocausto a você.

Mário de Sá me falou em um sonho tempestivo certa vez:

- Continue a escrever dessa forma. Com alma.

O velho Buk se revelou a mim numa noite de bebedeira, de vinho barato, enquanto tentava criar um soneto, e gritou:

- Vai desistir de escrever com verdade, seu filho de uma puta!

Meu analista, apenas escuta tudo e escreve um romance pulp, gótico e obscuro, com minhas confissões e ora em silêncio para que consiga vender ao menos um livro para os nãos parentes. E Florbela? Ah, doce flor, mostra-me as panturrilhas tatuadas com poemas haiku, num ato desesperado de me salvar a alma. Não tenha pudores.

Não tem jeito, forma, troqueu, iambo, dátilo, anapesto, dodecassílabo ou epopeia que me faça mudar a essência. E dessa forma terei que errar pelo mundo, por sentimentos que exalo em meus versos - quebra-cabeças que não se encaixam -.



Marcos Martins.



OBS.: essa é a continuação da poesia "Sobras", que está em meu blog.

Quem quiser lê-lo: http://migre.me/fdONv

quinta-feira, 27 de junho de 2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Reflexão



Precisava de cinco reais para cortar o cabelo. Fiquei chateado porque não tinha. E o carinha do outro lado do meu mundo, lá no Haiti, precisava de cem trilhões de reais para consertar milhares de vidas esquecidas. E mesmo sem ter todo esse montante não desaprendeu a sorrir.   

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Poema: Fadiga


Fadiga 


Quis me olhar no espelho e poder ver o que idealizava – perfume de flores do campo e um mundo sem medo.

Ponho a mão no peito – velho guerreiro de guerras tolas e perdidas – tenho a sensação de que nem tudo valeu a pena.

Não olho mais o horizonte. Não olho mais o céu à noite. Quando ouso olha-lo, sinto-me preso. E a gravidade me é deveras má.

Cansei de sonhar; de almejar coisas; de querer enxergar cores onde esperança não há.

Cansei de sonhar.

“A vida é um caso perdido”, já disse o artista que encantava sua plateia com histórias tristes. Pois bem, quem sou eu para dizer que não se minha vida é uma história inexpressiva.

Quis me olhar no espelho e pensar nas possibilidades do amanhã, no calor que o sol poderia banhar meu corpo. Mas tudo o que vi foi um homem quase sem reflexo, foi um homem que já teve motivos para sonhar – motivos que o agora tratou de apagar.

Cansei de sonhar.           


Marcos Martins.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nasce um poetar


Nasce um poetar


Sinto que uma poesia quer nascer – sair de dentro de meu ser -, porém, não sei como fazer para expeli-la (Os anos no serviço burocrático me apagaram).

Sinto-a em meu peito e umedecendo os olhos, mas não me faz chorar, é mais saudade de lugares que sei nunca vou tocar com minhas mãos ásperas.


Marcos Martins.

sábado, 15 de junho de 2013

(POESIA) - É SÓ UMA QUESTÃO DO TEMPO



É SÓ UMA QUESTÃO DO TEMPO


É uma questão de tempo, para mais um dia de luz tocar as pálpebras de um recém-nascido;

É uma questão de tempo, para mais um sorriso se formar;

É uma questão de tempo, para novos amores começarem;

É uma questão de tempo, para superar.

Tenho cicatrizes por todo o corpo, feridas que tendem abrir e sangrar. Não quero falar de traumas, quero falar de vida, não importa a forma como a mim vai se apresentar.

O sonho chega - os sonhos tendem a se formar em locais intocáveis - sonho bom, sonho com esperança, tudo o que almejo, mas não sei se vou concretizar.

Faço um poema com rima - será que as coisas estão mudando ou é só mais uma tola perspectiva de vida que flerta comigo e logo vai me abandonar? - Quem vai saber. Não importa.

É uma questão de tempo para se falar de amor; de dor; amizade; perda; crescimento, coisas pequenas que se acham; coisas grandes que se perdem. 

É uma questão de tempo para mais cabelos caírem, mais rugas aparecerem. O corpo não responder mais como antes. Não importa. O tempo não se importa.

É uma questão de tempo para se aceitar, para olhar para trás sem marejar os olhos. Não importam os motivos das lágrimas que caiam se revelem uma vida vivida.

É uma questão de tempo.
Sempre o tempo, sempre o tempo.

É uma questão do tempo, uma questão de saber a melhor forma de sentir o tempo passar.


Marcos Martins.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um norte


Um norte

Ao norte não há sorrisos coloridos para me fazer perder o medo de andar em cacos de vidros, porque nada me obriga a entender o que não quero e assim todos vivem felizes.

Quero dois copos com trigo e um cavalo branco sem arreios para monta-lo em pelo e cruzar o sol em um único lampejo (frases que tiram o fôlego são as melhores para serem ditas em voz alta, nos faz sentir vivos).

Mar e adentro, solidão me deflora (frases que não precisam se explicar).

Ao norte, observo mulheres-peixe que me chamam com seus cânticos. Tolas diabinhas, não sabem que feri a ferro em brasa meus tímpanos para nunca mais ouvir os seres vivos.

Agora só preciso de uma faca amolada para cortar as pálpebras e deslumbrar uma nova forma de enxergar o que a senhora razão, já de costas curvadas, tirou de meu espírito juvenil.

Ao norte tudo pode. Nada é culpa. Nada se é obrigado a fazer ou a aceitar para não se ter danação eterna.

Ao norte, logo que chegar me sentirei forte, não vou mais chorar porque estarei em casa, estarei entre os meus e nunca mais darei sorrisos falsos em fotos de família. Nem precisarei acreditar no que você acredita. Serei homem-livre, poderei finalmente amar e não temer a mão da criação, que só me afagara se assim eu desejar.

Ao norte, sempre ao norte, mas porque escolhi, não por ter sido obrigado a escolher, por temer iras eternas (desculpas para se fazer chorar quem a muito já sangra).

Ao norte, vejo um norte.   


Marcos Martins.                     

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Poesia bandida


Poesia bandida


Sou um poeta que nunca amou de verdade;
Nunca foi acariciado de verdade;
Nunca beijou uma boca verdadeiramente.

Beijei apenas bocas pagas, é, tive que pagar por amor, mas na verdade era por pena, pena de mim, pena de minha vida, meus fracassos.

Enquanto o mundo escorria ladeira a baixo, eu escrevia, escrevia e escrevia coisas sem sentido; coisas que tinha que dar um sentido; coisas que ninguém entendia e, por isso mesmo, torciam o rosto para mim.

Sou um poeta que odeia as rimas, que odeia qualquer tentativa de métrica na poesia, mas não sabe amar, pois o amor tem rima, ritmo, carícias espontâneas. Não se aprende o que não se teve; não se viveu. Talvez Baudelaire me entendesse, quem sabe.

Nunca vou morrer por amor;
Nunca vou sofrer por amor;
Nunca vou sorrir sem sentir dor.

Sou o poeta que não grava suas poesias, que não sabe fazer performances para declamar seus poemas, apenas leio e ponto. Leio, leio e leio, mesmo sem entender, mesmo que não faça sentido a outrem. O mundo deixou de fazer sentido desde ontem. 

Sou o poeta que sempre se perde eu sua louca e tola razão do poetar. Mas vou continuar a fazer meus versos, mesmo sem nunca ter provado o amor desses versos, mas há dor, essa dor contida e escondida nas entrelinhas, delas sou cúmplice.

Sou eu esse poeta que só sentiu gosto de saliva em todas as bocas que pagou para deflorar, que sabe, como ninguém, o que é sofrer pelo que nunca se teve da forma como se deve ter: verdadeira, pura. 


Marcos Martins.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

ESPERANÇA NO ONTEM



ESPERANÇA NO ONTEM


Vejo fotos em álbuns de família, rotos sorridentes, expressões felizes.

Se ao menos o carrossel girasse no sentido ante-horário, quem sabe tudo não fosse diferente.

Crianças almejam crescer tão rápido – É a inocência –. 

Dizem que verbos no passado não têm força em romances contemporâneos, mas o passado por vezes volta para nos assombrar.  

Fui moldado em barro de baixa qualidade
Descobri que sorrisos podem se transformar em lágrimas
Aprendi que nenhum tudo é alcançado por braços longos.

Tive tanta esperança ontem;
Tive tanta vontade de sorrir, ontem;
Tive tanto medo do dia de hoje, mesmo assim o dia nasceu sem se importar com meus temores;
Tive medo de sonhar e acordar.        

Quando descobrirmos que viver em nostalgia é o melhor que a vida pode proporcionar, os museus finalmente terão a grandeza que sempre mereceram e nunca alcançaram. E o futuro não mais nos preocupará, viveremos com os pés no chão, com as realizações no agora. 


Marcos Martins.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Poesia: INCOMODO




INCOMODO


Vejo a miséria de longe e me compadeço - sou humano -.

Sinto a dor das famílias desabrigas forasteiras em suas pátrias e me compadeço na dor – sou humano -.

Ouço murmúrios de crianças mutiladas, famintas de vida e comida, me compadeço e choro – sou humano -.

Vejo os donos do mundo a falarem, falarem, falarem e se reunirem e falarem ainda mais nas possibilidades de se dar paz a terra. Observo tudo nos noticiário e me encho de esperança – sou humano -.

Rumores de guerra, fome, peste, crueldade, genocídio; vejo, ouço, me choco com todos os fatos que os noticiários das 20 horas me revelam, sou humano e me compadeço na dor.

Outro dia, uma mulher com uma ferida aberta em carne-viva me pediu auxilio enquanto eu passava pela metrópole sem alma, não tinha nada nos bolsos para dar-lhe e segui minha vida sem nenhum remorso ou culpa. Ao vivo tudo não passa de sorte para uns e azar para outros.

Cheguei a minha casa e finalmente pude assistir ao noticiário e me comover com as misérias do mundo, bem longe das verdades que luto todos os dias para não encontrar.     


Marcos Martins.