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sábado, 6 de junho de 2015

Do instinto


Do instinto


Olhos que não posso roubar;
Lábios que não posso tocar;
Corpo que não posso desejar.

És doce – sem nunca ter te provado;
És rosa bela – com espinhos para mim machucar;
És tudo – sou mínimo.

Teu sorriso quero guardar em minha caixa de pertences valiosos, para que sempre que a solidão me abata possa contemplá-lo (De todos os quereres que um ser pode desejar, escolho o que não posso almejar).

Olhos perolados sempre a mim fitar;
Lábios carnudos que nunca ei de provar;
Corpo labiríntico que nunca poderei desvendar.

Perco-me em teu sorriso;
Prendo-me em meu racionalismo.
Sou apenas um só sem rumo, sufocando esse rubor no peito aberto em prantos que em vão tento abafar.

Olhos, doces olhos;
Lábios, desejáveis lábios;
Corpo, absintico corpo.

Desejos que não cessam;
Desejos que me cercam;
Desejos que não ouso confessar.

Razão! Entorpecem-me a vontade do instinto.


Marcos Martins.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

És tu



És tu


Foste tu que me inspirastes a sangrar em versos líricos;

Foste tu quem me desconcertou o pouco de juízo que tinha guardado nos bolsos da velha calça jeans;

Foste tu que fizeste com que me importasse apenas com a licença poética, nada mais;

Foste tu quem me mostrou que se pode amar sem quebrar.

Como gosto de sentir teus lábios confortando os meus. Como isso é bom. Poder sentir tua saliva na minha, teu calor invadindo minhas vértebras – como isso é bom.

Foste tu que indicasses o caminho sem mostrar-me os perigos na estrada e por esse favor te sou grato, mesmo depois de todo sangue derramado – te sou grato.

Escrevo versos com a mão esquerda, a mesma que um dia julgaram ser a do diabo, mas quem assim julgou esqueceu-se de lembrar que todos têm demônios interiores.

Sim, fiz esse verso com a mão esquerda, a mesma que afaga; que corta; apedreja; que limpa o corpo quando este fede. 

Foste tu que me impusesse o tempo gestacional desses versos, esse delírio – epifania que sai de meu peito e escorre por entre os dedos. 

Sempre és tu, ninguém mais, ninguém menos.

Marcos Martins.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Lânguido


Lânguido


Há dias e a dias em minha vida;
Há vida e a dias sem vida em minha existência; 
Há dor e há amor contido em meu ser;

Por todos esses caminhos que trilhei, esse que resolvi seguir foi o que menos me orgulhei – não se deve sair a esmo, pois se você se perde não se acha nunca mais.

Bússolas já não me servem;
Faróis para me guiar por entre minhas tempestades também não – Só me restou um pequeno espelho para que eu possa perceber que cada dia a mais, me vejo menos.

Há dias de luta, a dias que não quero mais lutar e fico tentado a partilhar com a derrota minha vida sem glórias, sem motivos para sonhar.

Sei que já disse isso antes, mas: tentar, tentar, tentar. Desistir. Voltar a tentar.     


Marcos Martins.

***

OBS.: as frases que deveriam ser escritas com “há”, para indicar o sentido de existência ou passagem de tempo as escrevi, propositalmente, apenas com um “a”, para indicar a total falta de perspectiva que está contida na poesia. Utilizei a licença poética para atropelar a gramática (que os gramáticos possam me perdoar um dia e que os linguistas possam me abençoar).

O final da poesia termina com uma ponta de esperança, já que no poema o ser poético sente, por menos que seja, amor. Isso pode ser encarado como uma contradição, mas o que é a vida senão uma grande concha contraditória, tecida com linhas de esperanças por amanhã menos cinza.     

Essa poesia é para se ler, ver e sentir.