Via espero
(Tua Esperança)
Pega tua esperança e
enfia no fundo de tua alma, pois aqui não há lugar para fugacidades. Aqui,
vivemos entre pedras e lágrimas; entre terra seca e poças de sangue vermelho-amor-partido.
Vá! Suma de meu
alcance, pois não tenho mais cola para consertar o que estraçalho. Minhas mãos –
adorno sem serventia no mundo globalizado – repousam na garganta frágil de uma
musa inativa, tristemente fragilizada;
Vá! Suma de minha
vista, pois não quero nem sentir um fio de tua existência tocada, roçada, em
meu corpo carbonado.
Hoje sou só mais um
sem adjetivos, absorto em meu aforismo sem sentido (rebelde sem vestes que lhe
cubra o corpo desnudo);
Hoje, não quero mais
saber do amanhã, por isso escrevo em versos livres, longe de toda a simetria que
a poesia possa querer me dotar;
Um copo de bebida
esquenta sobre a mesa suja.
Um copo do veneno
colérico do século XX para me desfalecer, da mesma forma que ironicamente
Walter Benjamin se fez morrer (um homem com medo nega todas as possibilidades
de se fazer surgir uma possibilidade).
Vem, vêm versos que
me liberta;
Vem, vêm versos que
me dorna o vivido;
Vem, vem e deixa toda
a tua métrica de fora, pois de ti quero apenas a sensação que me faz homem
despido;
Vem e suma.
Vem, tormento Nietzschiano
em mim contido (sopro e vida que me agonia os sentidos);
Vem dia festivo (estorvo
do corpo, estorvo que me subtrai os sentidos).
Pega tua esperança e
leva-a para bem longe de mim, enterra em um cemitério clandestino.
Tua esperança me
deflora. Magoa. Necrosa.
Marcos
Martins.