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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

FELICIDADE SEM LEMBRANÇA


FELICIDADE SEM LEMBRANÇA


Chovia. É. Chovia.
Havia um sabor. É. Havia um sabor.
Crianças brincavam e sorriam. É, sorriam.
Existia amor. É. Existia.

O vento sopra, toca o rosto do homem que definha dentro das areias do tempo e já não lembra quando aprendeu a andar. Toda brisa é única.

Chovia. É. Chovia?
Havia um sabor, havia?
Crianças brincavam e sorriam. Crianças... sorriam?
Existia amor?

No peito, o vaco;
No vaco, o acaso;
No acaso, saudade;
Na saudade, lembranças em um corpo que não sabe se chovia, se havia um sabor.  



Marcos Martins.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O BICHO


O BICHO


Eu posso ser como esses bípedes. Ser gente, assim, gente.
Se eu soubesse me vestir, assim, feito essa gente, feito gente. Andar igual a eles, assim, feito gente. Sorrir assim feito eles, desse jeito bobo, eu poderia tudo. Posso sim.


Se eu faço isso, posso dominar todos. É só mostrar minhas presas e pronto. Mas estou preso aqui, preso por trás dessas grades frias, amofinando, rosnando de raiva, e todos aplaudindo.

Fico aqui agindo feito bicho que sou... Mas eles também são bichos! Só que soltos pra poder matar sem culpa.

Marcos Martins.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Dialogo



"E ai, Marcos, quais foram os planos para à noite?"

"Estudar."

"E ai, estudou?"

"Nada, escrevi duas poesias"

"Isso vai te ajudar em quê?"

"Não as fiz para me ajudar, as fiz para esgotar a alma, caso contrário explodira ". 

"Surtiu efeito mesmo?"

"Por enquanto sim, mas tudo dentro de mim ainda grita, mesmo que de forma silenciosa, ainda grita."

Marcos Martins.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pungente


Pungente


Não sei fazer poses confortáveis para sair em retratos de família. Na verdade nunca consegui relaxar por completo. Vivo como se tentasse conter o choro, como se tentasse, tentasse e para não mais me cansar usasse a elipse para sentir um conforto artificial, desses que só os gramáticos entendem. 

Por que tenho tantos “porquês” dentro da alma. Por que nunca sei quando usar o porquê, se junto, separado, com acento, sem acento. Na verdade sei é o porquê, é que sou um “por que”, um que não se pode responder.

Não sei sorrir de piadas bobas, na verdade nem lembro a última vez que sorri de verdade, ou se já sorri de verdade, ou se já sorri. Só sei fazer poesias e para isso não há serventia, não, não há. Não há mais lugar para se por um poema, não com essa fugacidade que dilacera nossa degustação, essa fugacidade dos dias que não se dorme sem pensar, pensar e pensar... tudo é tão ontem.

Gostaria de resolver minha vida com uma só palavra. Sim, poderia ser “morte”, mas não quero a morte, por mais sedutora que seja não quero a morte. Mas estou com o porquê aqui, é, bem aqui, nesse músculo pulsante (pungente). 

Quando o sinal abrir, não terei mais motivos para atravessar a rua.

Como gostaria de saber ficar confortável em fotos de família, mas não tenho mais família, não aquela como nas fotos com meus avós - todos se foram e só fiquei eu para guardas esses sorrisos em minha lembrança, sem ter a certeza se já sorri.                  

Gosto de imaginar você a tocar meu corpo, a sutileza de teu toque me faz sentir vivo, porém a realidade da aspereza de tua mão me desconcentra sempre que começo a escrever versos como este, que o que importa não é o entendimento do cérebro e sim o sentir do ser infinito que vive dentro de nós, que nos faz olhar no espelho e mesmo em um dia nublado faz sentirmo-nos não só reflexo, mas algo além da carne que nos recobre os ossos.

Marcos Martins.

domingo, 20 de setembro de 2015

RAÍZES POÉTICAS


RAÍZES POÉTICAS

O que me resta é torcer para que meus versos possam ir mais longe que meu corpo cansado (morei a vida toda na mesma casa e agora nessa faze crepuscular ele já não é mais familiar).

Quando menino morria de medo de cemitérios, achava que ao entrar em um não conseguiria sair nunca mais – e viver com os mortos me assustava, não por todos estarem mortos, mas por não quererem trocar experiências de vida comigo.

Se um dia a morte deixasse de nos tocar seria bom? Ou toda a humanidade entraria em depressão profunda por não poder mais morrer? A indústria farmacêutica iria lucrar ainda mais com isso; psicolocos, psicanalistas e psiquiatras também, mas os manicômios viveriam lotados – mais cheios que nossas cadeias.

Preocupo-me mais em conseguir por um título descente em uma poesia do que com regras gramáticas “A língua é viva”, dizem os linguistas a plenos pulmões e alguns gramáticos de forma balbuciante.

O que me resta é torcer para que meus versos possam ir além-mar, além-mudo – meu mundo – e que possam sair de minha casinha e encontrar; e tocar almas humana; e tocar os que desaprenderam a chora, como eu desaprendi depois de descobrir que quem amamos também se vão – da mesma forma como os que odiamos. 

O que me resta é torcer para que me achem agora que já joguei as sementes nesses campos e que sejam polinizados em todos os cantos, rochosos ou não, pois já vi flores nascerem no asfalto duro das grandes cidades e sensibilizar os corações mais rígidos.    

O que me resta é torcer para que minha poesia crie raízes fortes e que toque de forma sutil todos os que ela um dia sentir.


Marcos Martins.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

DOBRAS APRAZÍVEIS



DOBRAS APRAZÍVEIS


Por trás das pálpebras de Alexandrina vi um mundo maravilhoso, com um lindo sol a brilhar;

Por trás das pálpebras de Alexandrina senti toda a emoção em descobrir o mundo novo.

Não tive medo dos corretores de imóveis que ficavam à espreita, para iniciarem suas especulações imobiliária. Só queria curtir o momento assaz aprazível. 

Por trás das pálpebras de Alexandrina vi sonhos nascerem e não vi morte – todos os cemitérios estavam inabitáveis por lá, e os coveiros depressivos por não puderem usar suas habilidades funerárias.

Por trás das pálpebras de Alexandrina tudo faz sentido, todas as cores são vivas e as sopas de letrinhas formam frases poeticamente lindas.

Saí de trás das pálpebras de Alexandrina e não gostei do que vi. Não gostei do que senti. Não gostei da vida devoradora de vidas que presenciei - mastigadora de homens que devoram homens, num movimento antropofágico viciante e cíclico.

Saí dos olhos de Alexandrina e não sei mais como voltar, nem como terminar essa poesia assaz aprazível, devoradora de vidas de homens, maquiavélica e conflitante, como todo ser provido de consciência, que um dia habitou o melhor lugar da terra – as pálpebras de Alexandrina  pôde ter guarida. 


Marcos Martins.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

DOCES DE CARAMELO


DOCES DE CARAMELO

Todos os poetas que li mandei fuzilar na velha baixada de meu coração  
Meu Eu lírico me deixou perdido na Central do Brasil e não quero mais voltar para meu corpo prisão 
Agora quero dizer que não sei o que escrever porque não sou mais poeta
sou poema e poema tem que ser poesia, então sou vazio e sem sentido 
Quero, não quero, não sei se sei o que quero, mas quero o todo
Quero matar o homem que matou o mundo 
Quero o mundo sem homens
Quero, não quero, não sei quem eu quero ser 
Quero, não quero. Aperto o botão e boom! Game Over, e a vida segue com novas comidas pré-cozidas para me proporcionar câncer.
Se achas que esses versos não fazem sentido, tira os olhos do fundo do teu umbigo e senti o mundo que estais existindo...

Marcos Martins.