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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Acabei de ler a coluna de estreia de José Castello, no Suplemento Pernambuco. Visceral! Acabei tomado pelo texto e pari essa poesia, logo abaixo:



ESCREVO


Eu escrevo com sangue na alma;
Escrevo como quem nasce e morre todos os santos e profanos dias; Escrevo, escrevo e escrevo e depois me deito exaurido, com os dedos dormentes, com a mente entorpecida, preso ao mundo, às vidas que criei – mas nunca foram minhas. 

As palavras são livres e livre é minha escrita.
Livre é meu espírito – preso a esse corpo que me serve apenas para acomodar os ossos doloridos. 

Escrevo para não enlouquecer, pois escrever para mim é o verdadeiro sentido de se estar vivo e não perder-se nesse mundo de lobos famintos.

Escrevo com sangue – com todo o afinco;
Escrevo com ódio – com amor escarnecido;
Escrevo porque preciso sentir-me vivo;
Escrevo, escrevo, escrevo me exaurindo, passando para o papel minha essência, deixando a literatura em todo lugar – tangível ou intangível –, não importa, porque o que importa é escrever e que o escritor seja esquecido.

Marcos Martins.

(Quem quiser ler o texto, eu recomendo. Aqui! )

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

II

II


 
Eu já disse, mas vocês não me ouviram;

Eu já falei, mas todos riram.

Esse meu peito me prega peças sórdidas e sórdida é uma palavra linda e forte, mas para mim é sem sentido nesse momento frágil em que fico encolhido.

Bom é bom, adeus, adeus, sei que deveria ter dito isso anos atrás, mas o céu continua o mesmo e eu só mudei um pouco - me olha e diz se sou o mesmo tolo ou um tolo renovado.

Abelhas trabalham sem parar, eu nunca trabalho e nem gafanhoto sou.

Frases verdadeiras poderiam ser ditas agora, mas, minha vida sempre foi uma grande mentira.

Para que conhecimento se o tempo passa e os erros pioram com o passar dos séculos.

Nunca saberei por que piso esse chão, nem o porquê de sentir que estou sempre perdido.


Marcos Martins.

domingo, 11 de outubro de 2015

V ato

V ato


Ignore-me, sou tão louco.

Sou tão compulsivo, tolo!

Não há intrigas, não há discórdia em mim, sou meu próprio amigo moribundo que espera atenciosamente pelo recomeço, meio, mas só sente o fim.

Justas essas frases insolentes não são, insolência também não.

O fruto que tanto busco ficou podre de tanto me esperar, não posso voltar, a sentença já me foi dada.

Sou louco? 

Sou louco! 
Tolos, não!
Sou só aquele que enxerga de mais na neblina densa como lama. 

Marcos Martins

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poema 29

Poema 29


O poeta é um ser solitário, cheio de amor e ódio, ira e afagos abafados.
Sente dentro de si, Deus e o diabo. 

(Seu céu é tão instável).

O homem sem nome se acha poeta, mas os verdadeiros poetas desprezam este carma, sonham em ser livres dessa prisão sem grades, trancas ou chaves - um carma que nos mutila aos poucos.

Choro, mas engulo o choro.

Ah! Como queria viver de pensamentos tolos e ser mais um na multidão. 

Como almejo ser um tolo feliz, não um poeta triste como sempre me fiz senti.

Marcos Martins

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

UM MOMENTO DE LUCIDEZ DENTRO DO ESTADO EMBRIONÁRIO DA INSENSATEZ


UM MOMENTO DE LUCIDEZ DENTRO DO ESTADO EMBRIONÁRIO DA INSENSATEZ



Um copo d'água, um copo d'água, por favor, mesmo que venha em um copo de requeijão;
Um copo d'água, um copo d'água, por favor, mesmo que venha contaminada pela cólera humana;
Um copo d'água, um copo d'água, por favor – por mais que mais pessoas tenham sede, eu quero beber antes que todas.

Uma brisa que me toca, faz minha pele acordar.
Uma única certeza esculpida – a de que mais sangue vai jorrar.

A natureza nos devora dia a dia, dia a dia; e aquele garoto que não volta com os feijões mágicos para que eu possa sair daqui, deixar tudo para trás e quem sabe voltar a sorrir, não chega nunca.

Não, eu não sei que horas são ou se tudo voltará ao normal. Mas o que é normalidade dentro de um mundo de verdades impostas? O que é normalidade dentro de mentes duvidosas, que conduzem rebanhos a matadouros sorrindo, sem saberem que não há paraíso; que não há inferno; que você é seu próprio demônio dormindo.

Um copo d'água, um copo d'água, pelo amor do deus que você afirma ser o único que deve ser seguido;
Um copo d'água, um copo com água, água para lavar-me, para limpar-me de todos esses gritos abafados dos excluídos, enquanto seguimos fingindo não termos ouvidos.


Marcos Martins.

Poesia em homenagem a todos os que deixam sua pátria por causa de guerras.