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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sandeu



Sandeu



Todos os homens são iguais;
Todos os tolos são mortais;
Todo amor sangra;
Todo amor é dor e esperança manca;
Toda mulher é feliz;
Toda algoz se faz feliz;
Toda vida é morticínio.

O que eu quis para mim foi paz, dois pacotes de arroz e um pouco de carne de segunda. Quero água para meu corpo, corpo que não me pertence, mas me preenche.

Todo homem é eterno;
Todo amor é amor, mas não é materno;
Todo céu é igual;
Toda dor é morticínio;
Todo fel é amargo e o amargo é como a vida que o açúcar não dá conta;
Todo homem é filosofo;
Toda verdade é absoluta;

Meus moinhos de vento, não funcionam mais e, meus braços, não te acariciam mais, sou tão sábio que chego a me sentir um deus e em minha luxuria, sou o mais alto e mais tolo de todos os homens tolos.

Toda culpa é gerada de verdades de sábios que são tão pequenos diante dos mistérios do caos.



Marcos Martins.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Encômio ao ócio



Encômio ao ócio



O relógio avisa-me que são 10 horas da manhã e eu aqui deitado, deitado em meu ócio. Não sinto vontades, nem as fisiológicas, que o amanhecer nos trás, apenas ócio. Fecho os olhos, sinto os olhos a mexerem de um lado para o outro, de um lado para o outro. Contemplo o escuro com toda sua calma, sabedoria e cumplicidade.

O relógio me avisa que são 11 horas da manhã. A cama esquenta, meu quarto esquenta, meu corpo está frio. Terei morrido? Não quero mexer-me para ter certezas. Concentro-me e o ouço o tic, tac, tic, tac. 11 e meia. Não tenho animo, apenas ócio.

Elevo meu pensamento para longe, para bem longe de tudo. Meus quadris doem um pouco, tanto tempo deitado, tanto tempo a refletir sobre tudo, sobre o nada, meu existir, o existir dos outros, das coisas, o fato de EU existir, do Ele existir, o sentido da vida que quero dar a outras pessoas, por não conseguir ter um sentido em mim.

Levantei.

Comi, mas permaneci com fome
Bebi e continuei com sede
Sorri, porém por dentro não me alegrava
Vivi triste com a vida que levava.

Há dias em que existo
A dias em que existo
Adia meu existir.

Por vezes, me tranco mim
Por vezes, deixo meu ócio por meus ossos entranharem-se dentro de todos os questionamentos que vivem mim.
Louvo o ócio
Louco ócio
Ócio, contraditório, que me faz produzir. 



Marcos Martins.
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

No lixo

No lixo


Por entre sacos rasgados, mau cheiro, podridão, há vida que luta por um espaço dentro do buraco da dignidade.

Restos de comidas são garimpados em meio à esperança de não estarem totalmente estragadas, como se isto fizesse diferença ao estomago. O ronco do estomago, sempre presente, confirma que o que menos importa é o paladar.

Cachorros lutando por espaço, ratos sempre presente, cães lutando por comida, ratos devorando o que se pode ou não mastigar.

Um campo aberto, espaços sempre presentes; por entre as janelas de um coletivo, vejo condições de cárcere ao ar livre, miséria e morte; desonra e humilhação, presentes se banqueteando.

Vi três anjos revirando o lixo, três anjos meninas a desbravarem sacos fétidos, buscando matar a fome, a dor. Senti-me impotente. Apenas olhei. Apenas olhei e pensei que o número três era enigmático. Três anjos sem asas, três inocentes crianças a se misturarem ao lixo, a se alimentarem de lixo. Mãos curiosas, olhos sem vida, momentos felizes por acharem restos que um dia se chamou – comida –.

Ao passar, de longe, pude ver fragmentos de uma vida sem vida. Com meus olhos pude censurar e indignar-me com a situação e, continuar ausente, com um sentimento de culpa que morreu com o mudar da paisagem.

Vi três anjos na imundice e com o distanciar de minhas têmporas, não mais distinguia o que era gente, o que era bicho, o que era inocência, o que era lixo.

Marcos Martins.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Onde me acho



Onde me acho



Estou com vontade de chorar, mas não posso;

Estou com vontade de criar um poema, mas não posso;

Estou com vontade de me atirar nas costas do mundo. Parar de escolher a miséria e buscar a libertação de tudo, de meu corpo sujo.

Estou sem meu estado de espírito;
Estou só, perdido, confuso, mínimo;
Estou aqui, sem verdadeiramente estar.  

Marcos Martins.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Lacuna poética




Lacuna poética 


Às vezes, as linhas do caderno são traiçoeiras com o poeta, pode até faltar inspiração, mas essas linhas nunca faltam. Podem faltar versos, mas as linhas em branco sempre estarão lá.  

Malditas linhas que me torturam, me olhando de forma seca, áspera. Torturam-me com sadismo. Se continuarem, cortarei minhas mãos e se mesmo depois de meu ato de barbárie, insistires em molestar-me tirarei a luz de meus olhos e dessa forma não mais vou poetar. Criar poemas sem vida é coisa que abomino, pois criar um poema; fazê-lo ser oco é como sorrir sem alegria, é viver sem se tocar.  

Por vezes, as linhas do caderno são traiçoeiras com o poetar e o poeta se torna refém do mundo que ele não consegue externar. E dessa forma, o branco do papel vence o espírito de quem não consegue transmutar versos em vida, mesmo que não contenham rimas, mas que preencham com sentimentos todas às lacunas que uma folha em branco possa ocupar.  


Marcos Martins.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Conto: Dilema profano



Dilema profano

Dentro de um porão, iluminado apenas pela luz do sol radioativo, um home faz os preparativos para sua morte programada. Arrasta uma cadeira, na penumbra do lugar, até tê-la embaixo de uma viga de madeira, pintada com óleo queimado por causa de cupins, que deixaram apenas o rastro de que já moraram ali e nada mais. Satisfeito com o posicionamento estratégico da cadeira, cuida logo de providenciar uma corda feita com restos de trapos que já foram roupas de homens que hoje jazem esquecidos.

O mundo como conhecia havia sido assassinado. De dentro de seu porão, melancolicamente úmido, podia ouvir os gritos de selvageria de homens que se digladiavam, canibalizavam-se e desaprenderam a sorrir. A natureza se devora de um jeito ou de outro.

Sobre uma mesa cheia de latas de ervilhas, feijões, carne enlatada e um casal de baratas, a última seringa com alguns ml de insulina - o que lhe matem vivo naquele inferno – repousava, privando-o do paraíso, paraíso esse que acreditava cegamente, mesmo depois dos homens terem deixado de acreditar.

Sacos e mais sacos de fezes se espalhavam pelo lugar que tinha pouco mais de 2 metros quadrados e possuía um complicado mecanismo de ventilação para que o ar não apodrecesse lá dentro, como se o ar de fora fosse menos venenoso.

Na vida, antes de toda aquela loucura, sonhara em ser escritor, conseguiu realizar o sonho e lançou um livro, um livro de 400 páginas que nunca seria lido por ninguém e que, hoje, suas folhas serviam exclusivamente de papel para libar sua bunda. Caixas e mais caixas de seus livros amontoavam-se uma em cima da outra Tinha que haver alguma ordem em todo aquele caos -.

O mundo ruía em sua volta e ele com 500 livros que nunca seriam lidos. Isso poderia ser frustrante a qualquer escritor, não para ele que mantinha a felicidade de ter escrito um livro com mais de 400 páginas, pois servia para limpar sua bunda agora. A noite dos errantes era o titulo do livro, sem crase no “A” devido a um erro da gráfica. Ele ficou de ligar na segunda-feira para reclamar, mas a segunda nunca chegou para ele, não da forma como estava habituado a vê-la chegar.

O livro falava de um apocalipse zumbi. “Adoraria ver zumbis lá fora”, se pegou falando muitas fezes em noite intermináveis de insônia. Lá fora havia homens em pele e osso, mas pele que osso, mas ossos do que homens (homens-zumbis). 

Queria acreditar que Deus tinha apertado o botão do FODA-SE e mando tudo para o inferno, mas sabia que Ele não tinha nada haver com aquilino. E não se pode culpar um deus por omissão. Ele sabia que alguém tinha apertado o botão do FODA-SE, no entanto, aquela altura, não importava de qual país tinha sido o dedo, ou se tinha sido o dedo de um branco, negro, asiático, homem ou mulher, de alguém que acreditasse em Deus ou não. Ou se havia sido o dedo de uma criança, não importava porque no final tinha sido um ser humano, no auge de sua monstruosidade, a fazer brotar as flores da morte.    

Procurou um espelho para se ver pela última vez, achou o pedaço de um que havia sido imponente um dia e hoje era apenas um pedaço de vidro que refletia um semblante ossudo do que um dia fora um homem. Ao ver-se se assustou. Seus olhos continuavam castanhos claros, mas eram de uma tristeza profunda, os cabelos ruivos estavam ensebados, desgrenhados e as sardas quase imperceptíveis devido à quantidade de ossos protuberantes de sua face. “Já tive bochechas, agora tenho apenas queixo e dentes podres”, falou. Pensou que talvez fosse o último ruivo da face da terra e achou engraçado ser um animal em extinção. 

Jogou o espelho num canto qualquer, não tinha mais importância, foi em direção da cadeira, subiu e amarrou a corda improvisada na viga de sustentação de seu abrigo-lar. Por uns instante teve medo de estar magro de mais e ao invés de quebrar o pescoço ficar dependurado sem poder descer – que irracional pensar assim -.

Olhou para a seringa com a última dose de insulina, se a injetasse em seu corpo quase morto não saberia mais como sobreviveria e o que menos queria era ter mais coisas para se preocupar. Pôs a corda no pescoço, não fez um lanço, amarrou-a de forma rude, com a certeza de que estava bem atada em seu pescoço fino e ossudo. Rezou um pai nosso, uma ave Maria. O mundo poderia ter acabado, mas sua fé ainda não.

- Não consigo – continuo com lágrima nos olhos – Não posso me matar, minha alma não teria salvação e eu iria para o inferno. Mas já vivo em um - refletiu.

Era um escritor fracassado que nunca havia vendido um único livro e agora planejava morrer, não por ser um escritor fracassado e sim por viver em um mundo fracassado. Tudo estava preparado, menos uma carta de despedida, para quem lê?


Seu corpo começa a sentir a necessidade da insulina, ele faz uma última prece, pedi para que Deus venha ou mande um anjo pegar a insulina e aplicar em seu braço, assim saberia que Deus sempre esteve com ele. Mas não foi Deus quem apertou o botão do FODA-SE e sim o homem, enquanto Deus dormia.                      

Marcos Martins.
  

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A VIDA TODA



A VIDA TODA

Quem deixa o ventre materno sempre vai sentir saudades de casa, de um tempo que ficou marcado, não só na mente, mas em todo o corpo; tatuado na alma.

O ventre é o céu, o paraíso que Michelangelo nunca ousou pintar.

Quando faço nascerem meus versos, sinto que saem de meu ventre e com a ruptura um trauma se forma, pois nem sempre os versos, a poesia está pronta para ao mundo, porém, como pai zeloso que sou, finjo ser mais forte, finjo não chorar – mas choro as escondidas – e as protejo com a vida.

No ventre, não temos problemas, não desenvolvemos transtornos, há apensa calmaria, segurança, paz. É Assim que deve ser.

Quando fui expulso do ventre que habitava, chorei feito um louco porque sabia que terreno pedregoso iria pisar.

Quando deixei o ventre, vi que apenas os poemas que cultivava poderiam me salvar de toda a sandice que os homens de boa fé iriam impor-me há vida toda.

Marcos Martins.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Poesia nunca é de mais, poetar, poetar, poetar. Bom dia a todos




INALCANÇÁVEL

Preciso de um pouco de controle para minhas emoções;
Preciso de emoções em minha fadigada vida;
Preciso de um único dia com 26 horas;
Preciso mais de mim do que de você. 

Já não consigo mais me olhar no espelho e ver esperança por dias que valham a pena levantar-se e tentar fazer uma refeição descente.

As lágrimas são minhas únicas amigas verdadeiras, são elas quem me lavam, cuidam de mim depois que a esperança me abandonou na porta de uma igreja velha, onde não se celebram mais missas.

Estou cansado, estou cansado de esperar por quem nunca vem me buscar para um passeio calmo no parque.

Preciso de um pouco de controle, pois os rumos que me levaram até esses versos não são dignos - Quem é digno, por inteiro, em nosso mundo? -.

Quando era garoto tinha medo de palhaços, se soubesse que esse seria o prelúdio de uma alegria que não me queria por perto, talvez minha vida tivesse sido diferente e não tivesse tantas cicatrizes abertas para costurar. 

Preciso de novas emoções e de um espírito juvenil, pois minha velha alma não suporta mais carregar tanta cruz e não há mais espaços para pregos em meus punhos e pés; 

Preciso de suspiros novos, que não me façam inspirar toda a melancolia que os outros descartaram de suas vidas;

Preciso da mão de uma genitora, que possa me acalentar e dizer que tudo ficara bem no final dessa jornada, estreita, desse abismo sem fim, desses sonhos inalcançáveis que um dia almejei em meu existir. 


Marcos Martins.







quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

sábado, 4 de janeiro de 2014

Meu poema - Lençóis sujos -



LENÇÓIS SUJOS

Adeus, pobre menina de pés descalços;
Adeus, jovens sem motivos para sorrirem;
Adeus, anjos ésteres;
Há Deus - civilização que se devora -.

Dois motivos para um sorrir;
Dois motivos para um abraçar verdadeiro;
Dois motivos para não matar um ser humano;
Dois motivos e várias más intenções em uma vida inteira.

Lençóis sujos revelam uma noite de luxuria que só humanos podem comprar. E isso se aplica em quase tudo que é tangível.

Camas desfeitas, pessoas sonolentas e a terna questão moralista que sempre me acorda no meio da noite e me pergunta: - devo ou não me preocupar em pagar o aluguel do mundo?

Adeus, pobre menino crescido com amargas lembranças;
Adeus, sol poente;
Adeus, inocência.

Sejam bem vindos aos lençóis sujos, à vida suja, ao existir e não se sentir; ao existir e reprimir sua existência, sempre em baixo de mortalhas sujas de sangue vermelho vivo, não importa a espécime.


Marcos Martins.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

CHOREI E ME SENTI FORTE



CHOREI E ME SENTI FORTE


Hoje chorei sem motivo aparente. 
Ontem chorei ao rever meu passado.
Chorei ao sonhar com um futuro que não sei se algum dia ira me tocar.

Homens podem ser monstros ou seres tão frágeis, tanto quanto uma flor que pode ser esmagada por um punho hostil.

Hoje chorei de alegria, com a partida da tristeza que me persuadia e me angustiava o ser.

Ilusão é viver sem derramar lágrimas.

Ontem chorei ao rever o plano fracassado que tracei para meu curto dia, porque sentia que nunca iria alcançar o outro lado da ponte, que possui cordas tão finas e já apodrecidas e sei que não sustentariam meu fardo.

Amanhã não saberei o porquê dos motivos que me farão chorar, mas espero que tenha alguém do meu lado, alguém que possa me acalentar e dizer: tudo bem, pois comigo você pode ser verdadeiramente você, sem ter que fingir ser forte, sem ter que fingir para os outros que apenas fracos podem chorar.

Marcos Martins.