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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Gentileza por que fugiste




Gentileza por que fugiste





Mataram a gentileza;
Corromperam o natal;
Subornaram a ideologia;
Falaram mal dos bons vizinhos, disseram que eles só queriam aparecer.

Fizeram pouco das pessoas educadas;
Ridicularizaram os homens de boa fé;
Espancaram a primavera;
Pisaram em meu coração.

Fui à busca da educação, estava caduca e com transtorno bipolar.
Perguntei as minhas lágrimas por que chorava? Reponderam: Estamos cansadas de tudo e resolvemos nos suicidar, saltando de tua íris para o fim de nossa existência.

Torturaram os cânticos natalinos;
Puseram foco na pomba da paz, que voou em chamas e sem rumo buscando o firmamento que não há mais.

Debocharam dos tratados de paz;
Mataram dentro do cinema, enquanto se passava um filme que falava de paz - A gentileza dos homens, aqui jaz.
Há gentileza nos homens? Não sei se nos cabe mais.

Caráter morto;
Amabilidade obsoleta;
Respeito em poucos homens;
Civilização dos incivilizados;

Respingos de sorrisos inocentes não nos tocam mais, não alcançam nosso âmago. 
Só restou o desejo de se, timidamente, falar: feliz natal a todos os seres racionais com momentos irracionais.

Marcos Martins.


OBs.: por causa de um salgadinho, nesse fim de semana, um cara quase apanha no cinema, pensando nisso resolvi fazer esse poema, nessa data mágica que é o natal.    

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Fosco


Fosco


Perguntei aos meus olhos o porquê de chorarem tanto, um deles me respondeu que era porque eles ardiam em brasa, devido à dor em ver todo o mal e nada poder fazer.

Meus dias passam lentamente – o relógio é meu inimigo – e não quero mais saber o porquê de tudo, prefiro a ausência da visão. Prefiro o nada que me preenche e conforta tanto; prefiro não tentar montar o quebra-cabeça, faltando peças, que essa vida plástica apresenta ao meu viver.

Não quero mais ver. Não quero mais maltratar meus olhos (perderam a inocência há tempos). E esses colírios, esses colírios que fingem clarear as coisas, só me faz mal – castigo eterno até que o chão consuma tudo o que minha íris possa ver.

Essas pálpebras que não fecham para sempre, a cada dia faz com que meus olhos fiquem mais sensíveis – não aguentam mais ver toda essa culpa, esse raio refratário que bate e marca profundamente (luz sem cores que ofusca o que gostaria de ver).        

Esses olhos acumularam tanta tristeza ao longo da jornada do herói (que de herói não tem nada, nem jornada a de ter), esses olhos castanhos, esses olhos neon perdidos no meio do labirinto vazio-fugaz, que não canso de ver, é impotente de nada poder fazer e calar-se em panos quentes... Não posso fazer. Ninguém me fortalece.

Essa retina velha que apenas vê fragmentos de pigmentações indecifráveis, cores cítricas, natureza morta, mãos que apedrejam; gente sem alma, gente sem olhos – cegos olhos que não deixam ver todas as cores do arco-íris, porque a película de lágrimas deixa tudo fora de foco e sem foco, tudo fica mais difícil de tocar, consertar, ver e algo poder fazer.

Ninguém me fortalece. E o cristal de minha íris não emite luz própria, não reflete a beleza que todos dizem o ser ter.          



Marcos Martins.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

EM HOMENAGEM A MANOEL DE BARROS - Mais um inspirado no grande poeta Manoel de Barros. Um ótimo fim de ano a todo(a)s!



LÍRICO


Essas horas que não passam quando fico em ócio;
O tempo que me é imparcial, quando minha mãe me acalenta, enquanto cresço sem notar;
Os pedaços de folhas pelo chão – natureza morta que me torna vivo;
O sentido das coisas que para mim não faz o menor sentido, enquanto caminho sem tocar o chão.

As horas que escorregam por entre meus dedos e cai asfalto a afora não têm serventia em meu dia a dia burocrático, então as deixo partir e recomendo que não olhem para trás, assim não me e se apegam mais do que deviam.

O tempo não é teu amigo, 
Teus pais é que são – mas só enquanto tens inocência.

Aumento meu mundo em meus versos;
Aumento a distância entre o ser, ter e o estar – nem sempre estou, mas sempre sou e quero ter sem ter que de mim desapegar.

Em uma poesia, posso me explicar, mas não o quero fazer, pois poesia não se explica, assim como os corações enamorados – poesia não se explica –, nem as razões para se fazer o poetar. É igual ao acalento de mãe, que não precisa de motivos para se iniciar.

Essas horas que não passam quando fico em ócio;
Esse tempo que não se importa se rezo ou choro;
Os pedaços de folhas mortas que decoram o chão;
O sentido do que não é lírico para mim não tem a menor serventia em um mundo cão.

Não sinto por só saber fazer isso.... Poetar, poetar, poesia. 


Marcos Martins.

domingo, 16 de novembro de 2014

A TI MANOEL DE BARROS - Poesia a Barros


Poesia a Barros


Apaixonei-me por um homem de 97 anos que não foi feito de barro e sim de argila, com uma anomalia única em seu ser - ser poeta. 

Apaixonei-me pela poesia exalada de seus poros, que me colocou dentro do infinito para que eu pudesse ver, bem quietinho, o belo das coias pequenas que passam despercebidas, que se escondem debaixo das pedras que aprisionam o silêncio, que alargam os horizontes e gravam o cântico dos peixes pela manhã.

Hoje, não preciso mais de olhos para ver o sol, é só fecha-los e contemplar o calor que me aquece e me alimenta, perpassa meu corpo, acalenta meu eu.

Essa paixão foi amor à primeira frase, ao primeiro verso, e logo se espalhou por todo meu corpo, dentro de meus rios - transportadores de liquido vermelho vivo.     

Manoel de Barros, que só mente em seu poetar dez por cento, o restante inventa e cria sua poesia impar. Manoel é a poesia materializada, pulsante, viva e infinda. Uma criatura dessas não pode ter sido feita do barro – apesar de levar no nome pluralizado-, foi feito de argila, que possui profuso uso – inclusive medicinal. Manoel é isso, poesia que cura a alma, que produz vários artefatos poéticos – todas, peças únicas e insubstituíveis.

Manoel de Barros, único ser poético em tempo integral, que ficou a toa à vida toda, comprou o ócio em prol da poesia, para o bem de quem se deixa tocar a alma.



Marcos Martins.
                       

Essa poesia é uma homenagem ao Grande (com G maiúsculo) poeta Manoel de Barros, nascido à beira do rio Cuiabá em 19 de dezembro de 1916, falecido no último dia 13 de novembro 2014.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ABAFADO


ABAFADO


O grito.
O silêncio.
O grito.
Há silêncio.

O eco;
O ego;
Dor que vem e se aloja em meu peito.

O grito.
O silêncio.
Coisa que toco e quebro com meus defeitos.

O susto;
O lamento;
O grito dentro de meu silêncio.

Estética rasa, rala como o século que precisa de adendo, onde tudo falta, onde tudo se abafa e apenas olhamos como os dias ainda podem passar lentos.

O grito - meu silêncio.
O grito - esquecimento.
O grito - prisão sem trancas.
O grito - pássaro sem asas que canta um canto de lamento.

O grito abafado pelo vento.
O silêncio perdido dentro do grito.
O grito que me negam, engulo com meus medos.


Marcos Martins.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

AO VENTO


AO VENTO


Hoje, tentei chorar por você, porém lembrei que não lembrava mais de seu rosto – tanto sentimento reprimido em meu peito, tanta força, dor, lamento. 

Hoje tentei chorar por você, porém lembrei que não havia mais tempo; senti uma dor em meu peito, dessas que queimam e não passa, é como um sentimento reprimido uma dor aguda, prisão, lamento.

Hoje tentei chorar por você, porém minha vida-carrossel não me tirava da rota de colisão e já não havia mais palavras, mais vocábulos, sinônimos, parônimos, adjetivos que pudesse usar – tudo secou, assim como o manadeiro do velho Chico, tudo secou.

Hoje, que dia é hoje? Isso importa? Não, não mais, pois o que importa deixou de ter importância e o agora não tem mais serventia, porque todos os dias se parecem com o ontem e o eterno retorno é uma prisão psicológica que deixa marcas profundas.

Hoje tentei chorar por você, mas você não se importa com poesia, porque sabe que não tem serventia – rimas não preenchem teu vazio.  

Hoje me libertei e não importa-me tuas lamurias, pois hoje sou um livro com páginas ao vento, que não podem ser domadas.


Marcos Martins.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Poema 43

Poema 43


Um início para o entendimento do verso a ser escrito. Não comecem pelo final ou pelo meio, mas sim pelo início.

No seu fim, desfecho feliz ou infeliz.

Em seu meio, o receio de um final infeliz.

No início, a esperança de um final tal como outros contos que, escondem seu verdadeiro final.

Devo aceitar meu fim ou mudar meu meio e o por vir?




Marcos Martins.