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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

SURREALITÉ



SURREALITÉ 



Estou sonhado... Estou acordado... Estou sonhado. 
Estou existindo dentro de um quadro pintado com tintas frias.

As mãos não servem apenas para criar;
(Servem para expor o mal nos homens)
As mãos não servem apenas para tocar; 
(Servem para castrar sonhos).

Ó, doce amuleto que para mim não tem serventia, pois sou um cético incorrigível que ao observar o sol – esse astro rei imponente – vê apenas algo queimando num lugar sem oxigênio, não o belo de algo que nos aquece o corpo e dos poetas o coração.

Estou andando e não sinto minhas pernas – que já não são mais minhas;
Estou dormindo e não consigo mais sonhar – cérebro que não me dá condições de divagar em terras férteis;
Estou vivendo morto por dentro; 
Estou destruindo o castelo que construí para morar.

Ao contemplar o céu na noite calma ou de tormenta, não vejo estrelas, vejo apenas pontos tristes – lágrimas amargas –, lembranças secretas que o presente não pode tocar.

Estou sonhando... Estou acordado... Estou chorando... Estou sem estar.  


Marcos Martins.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Existo



Existo


Existem coisas que as mãos não podem tocar para não quebrar;

Existem afetos que devem permanecer apenas na subjetividade para não rachar o que a fantasia transformou em eterno, em belo;

Existem lábios que nunca se encontrarão nessa vida – quem sabe em outro plano (quem sabe há planos);

Existe o agora que a todos devora por não ter forças para transformar desejos em matéria – tudo está como Hipnos quer que esteja;

Existem desejos que sempre serão castrados pela Senhora Razão;

Existe o sim, mas apenas convivo com os nãos;

Existem inúmeras maneiras de te dizer: “Te amo”, sem machucar outro coração?

Assim como dois pontos seduzem uma linha reta e a enganam simulando o caminho mais limpo, sigo sem escolhas, sem seguir caminhos que almejo – caminhos que sonho ter menos espinhos, mas sinto que não.

Sigo desesperado pela estrada no ventre do monstro marinho, sentindo que não ei de provar aquele ósculo com um gosto divino, que apenas contos de fadas proporcionam.

Existo para sentir que existo para preencher o vazio que me preenche a pele, reveste os ossos, deforma minh’alma, maltrata meu corpo, me põe de joelhos no chão.

Existo, porém, não vivo.



Marcos Martins.