Existo
Existem coisas que as mãos não podem tocar para não
quebrar;
Existem afetos que devem permanecer apenas na
subjetividade para não rachar o que a fantasia transformou em eterno, em belo;
Existem lábios que nunca se encontrarão nessa vida –
quem sabe em outro plano (quem sabe há planos);
Existe o agora que a todos devora por não ter forças
para transformar desejos em matéria – tudo está como Hipnos quer que esteja;
Existem desejos que sempre serão castrados pela
Senhora Razão;
Existe o sim, mas apenas convivo com os nãos;
Existem inúmeras maneiras de te dizer: “Te amo”, sem
machucar outro coração?
Assim como dois pontos seduzem uma linha reta e a
enganam simulando o caminho mais limpo, sigo sem escolhas, sem seguir caminhos
que almejo – caminhos que sonho ter menos espinhos, mas sinto que não.
Sigo desesperado pela estrada no ventre do monstro
marinho, sentindo que não ei de provar aquele ósculo com um gosto divino, que
apenas contos de fadas proporcionam.
Existo para sentir que existo para preencher o vazio
que me preenche a pele, reveste os ossos, deforma minh’alma, maltrata meu corpo,
me põe de joelhos no chão.
Existo, porém, não vivo.
Marcos Martins.
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