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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Poesia viva


Poesia viva


Sinto tanta poesia pulsando em minhas veias;
Sinto-as percorrer todo o meu corpo e se alojarem em meu coração.

Quero fazer um poetar errante, pulsante, que ecoe, ecoe e não pare nunca de ricochetear. Mas sou só um homem que vez por outra usa bermudas e sandálias de dedo, porém há algo. Eu sinto. Externo. Escrevo. Eu sinto.

Sinta! Pode sentir? Saem não sei de onde, passam por minhas veias, adentram meu coração e o faz bater, bater, bater... Então o milagre da vida é criando e meus dedos começam a traduzir o que o coração sente, vindo sabe-se lá de onde, mas não importa; escrever, criar, dar forma, vida é o que importa. Não importa saber de onde vem ou para aonde vai, o que importa é que vá, crie asas e seja fecunda.

Poesia presa é vida morta.


Marcos Martins.

sábado, 20 de setembro de 2014

ROTO


ROTO


Esse caos dentro do meu peito queima o que de bom já tive um dia. Drena o que de bom já plantei um dia. Afasta tudo o que almejei. 

Esse caos dentro de meu ser dilacera meus órgãos já tão castigados. Drena o que de bom já plantei um dia. Afasta tudo o que planejei.

Esse caos dentro de meus poros, me sufoca, asfixia meu pulmão – quase que total necrosado. Drena o que de bom já plantei um dia. Afasta tudo o que um dia já toquei.

Esse caos que circula em minha corrente sanguínea, intoxica minha alma, causando erupções em meu corpo roto. Drena o que de bom já plantei um dia. Afasta os sonhos que sempre sonhei.

Esse caos, ah, esse caos, que me mostra o futuro de minha humanidade – incomoda quando vejo o rastro que deixei. Drena o que de bom já plantei um dia. Afasta todo verbo que já conjuguei.

Um dia vou drenar todo o caos que o mundo produz – esse caos dentro de mim; de você –, essa tormenta – violência contida dentro de nossa essência -, que rasga, esfarrapa, danifica, dispersa tudo o que de humano podemos sonhar um dia ser.


Marcos Martins.

sábado, 13 de setembro de 2014

O DIA EM QUE O RECIFE AFUNDOU (conto)


O DIA EM QUE O RECIFE AFUNDOU


Desde menino Henrique tinha dois sonhos e um trauma: queria ser astronauta, era o primeiro sonho; destruir todas as pontes da cidade do Recife, o segundo; ter que atravessar as temidas pontes da Veneza brasileira todo santo dia era seu trauma. 

Quando menino, caíra da ponte da Boa vista e quase morrera afogado nas águas escuras do Rio Capibaribe. Ele tinha 7 anos na época e hoje, passados 23 anos, o pobre homem nunca conseguira esquecer a sensação de afogamento e o gosto que o rio deixou em sua garganta.

Sempre que passava por alguma das pontes do Recife suas mãos gelavam, sentia tontura e náusea. Chegou há levar 20 minutos na travessia de uma das pontes, causando um congestionamento. Certa vez chegou a travar no meio da ponte Maurício de Nassau e ficou agarrado a estatua do poeta Joaquim Cardozo por horas, só saiu de lá com a ajuda do corpo de bombeiros, depois de uma exaustiva negociação. Virou notícia nesse dia e por algumas semanas era reconhecido por onde passava.

Fosse a pé, de carro ou ônibus, não tinha importância, ter que cruzar qualquer uma das 49 pontes da cidade era um martírio. À medida que Henrique crescia, também crescia a vontade de explodir todas as pontes da capital pernambucana, pois dentro de sua cabeça, o que sustentava o Recife eram as pontes, sem ela toda a cidade afundaria. Mas explodir 49 pontes não é era coisa fácil de se fazer, então teve uma ideia brilhante, em seus devaneios acordado. Estudou a arquitetura do Recife e chegou a conclusão de que teria que destruir 12, das 49 pontes que tanto embelezavam sua cidade, que todo o Recife afundaria, pois as 37 restantes não aguentariam o peso da metrópole e sua agonia teria fim.

Henrique estudou por 5 anos quais pontes, de fato, sustentavam a cidade e concluiu que eram as: Princesa Isabel; 06 de Março; Duarte Coelho; Limoeiro; Boa Vista; Maurício de Nassau; Buarque de Macedo e a 12 de Setembro. Essas seriam os pilares de sustentação do Recife e se fossem postas a baixo, toda a cidade sucumbiria.

Conseguiu comprar dinamite, de uma forma que seria melhor ninguém ficar sabendo para não se complicar, pois existem coisas que não se deve ser explicada, como por exemplo: receita de bolo, doação para campanha eleitora ou verba de gabinete. 

Comprou alguns detonadores a controle remoto na internet alimentados por bateria de celular (hoje pode se construir um acelerador de partículas com material comprado em sites de compra on-line). Fez alguns testes no quintal de sua casa soltando rojões para ter a certeza de que que tudo daria certo (um louco prevenido por dois vale por um são). Ao soltar os rojões a criançada da rua ia ao delírio, Henrique só visualizava as pontes indo a baixo e sorria de forma aliviada.

Planejou tudo de forma metódica, esperou por um feriadão, para ter a certeza de que toda a cidade estaria vazia. Utilizou um barco para navegar pelo Capibaribe, para não levantar suspeita, e aproveitando um feriado que caia numa segunda-feira pôs o plano em prática. Durante dois dias conseguiu instalar dinamite em todas as 12 pontes que escolhera. Foram dois dias acordado a base de energéticos para dar conta de tudo.

Logo após colocar todos os explosivos, foi para o topo do prédio JK, dessa forma tinha a certeza de que teria uma visão privilegiada e assim poderia contemplar a concretização de sua façanha.

- Recife, eu te amo! – gritou do alto do prédio de forma sádica.

Esperou o sol nascer, porque queria que o astro rei presencia-se sua façanha. O Recife acordava de forma sonolenta, os ônibus ainda não iniciavam seus percursos, passando lotados de gente enlatada, não se ouvia o som de motores, nem a fumaça de canos de escapes dos automóveis que nos matando de forma silenciosa. Ele estava emocionado, suspirou e acionou os detonadores... Sentiu um silêncio dentro de si e então o som das explosões. Ao detonar os explosivos sentiu que todo o Recife pode ouvir o som, como se trombetas celestiais anunciassem o novo e uma lágrima se fez nascer.

Uma a uma as pontes foram postas a baixo. Então tudo se acalmou. Mas foi passageiro, pois estalos secos irromperem a paz falaciosa e toda a cidade começou a afundar. Henrique chorou no topo do JK quando viu o cinema São Luiz emergindo, a lama começando a tomar conta de tudo, a se misturar as ruas, vielas, cada canto - do Beco da fome ao Marco Zero.

Enquanto o Recife sucumbia, lembrou que havia deixado um barco, para a sua locomoção, ancorado ao pé da ponte da Boa vista, onde tudo havia começado, onde sua vida havia ganhado um propósito e agora não mais existia barco, pontes, Recife, propósito algum. 


Marcos Martins.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Mais um de meus contos


 

A VERDADE ESTÁ NOS VERMES


Acordou as duas da madrugada e viu os vermes a lhe degustar. Não sabia onde estava, nem como sair dali. Não sentia dor, apenas desconforto e vergonha por estar sendo devorado vivo. 

Seu ventre aberto não exalava odor. Tentou fechá-lo – não teve êxito. Tentou levantar-se – faltaram-lhe pernas.

Pensou, pensou e pensou (nada em sua mente). Coçou a cabeça, sentiu o oco. Olhou para a mão encoberta por uma mucosa – sentiu enjoo. 

Refletiu: 

“Como posso não ter mais meu cérebro? Como posso pensar isso sem ter um cérebro?”

Sentiu sede, percebeu que não tinha mais língua. Quis chorar, seus olhos lhe abandonaram.

Depois de algum tempo viu que não poderia sair de sua escuridão, então, acomodou a cabaça nas trevas e começou a se sentir mais confortável com todos os vermes que lhe consumiam o corpo. 

Pensou:

“Como será que está o dia lá fora? Será que tem crianças correndo, flores desabrochando e pessoas sentindo minha falta?”

Passou a mão na cabeça novamente – sentiu alguns fios de cabelos – e ficou feliz por não ter mais seu cérebro, dessa forma, sabia que não pensaria mais em problemas fúteis. 

Marcos Martins.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Não é nada, é só um desabafo no deserto


Acho que um dos motivos que fazem com que o Brasil viva nesse entrave de crescimento (crescimento em todos os sentidos), acrescido da síndrome do estrangeiremos de compararmos tudo o que passamos aqui com o que existe lá fora do tipo: “Ah, se fosse nos Estados Unidos, não seria assim.” “Na Europa é diferente, todos lá são tão educado. E no Japão, então...” Me faz refletir que enquanto não soubermos cumprir as leis que nos são impostas, vamos sempre viver nessa rotina de sempre querer dar um jeitinho em tudo, de sempre querer usufruir dos direitos (nunca engolir os deveres) e viver com essa síndrome de Peter Pan de nunca crescermos como deveríamos crescer. Porque estou dizendo isso devem estar se perguntando, ou quem sabe até nem queiram saber, mas explico mesmo assim. Ao informar um aviso, onde todos deviriam cumprir uma norma estabelecida, recebo a seguinte pérola: “Isso é muita frescura.” 

Queremos tudo: melhores hospitais, educação de boa qualidade, um País mais justo, sem corrupção e sem violência (por mais que ela esteja canalizada em nós), mas em troca o que damos? Um sonoro: “Isso é muita frescura!”

Como disse um amigo meu certa vez: “O Brasil é um país feito por todos nós. Só falta desatar esses nós para que possamos fazer jus ao trecho de nosso belo hino: Gigante pela própria natureza”.

Marcos Martins.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

BUSCA

Uma antiga poesia em uma nova couraça.


BUSCA 


O que é o pensar das coisas?
O que são às dúvidas?
Como responder as perguntas que ruborizam?
Como ser verbo, se não sou nem adjetivo?

Como fazer a coisa certa de uma perspectiva caleidoscópica?
Como é sentir o amor, sem interesses burocráticos? 
De que osso foi feita a natureza?
De que costela foi feita a incerteza? 

Meus amigos, no auge de minha imaturidade dizia que todas as preocupações, dúvidas e inseguranças eram balelas – temos todas as respostas para o mundo quando somos jovens.

Amigos, no auge de minha maturidade, vos digo: “caminhem e só, pois todas as preocupações, dúvidas e inseguranças são balelas – temos toda a paciência do mundo quando a juventude não nos toca como antes”.

No auge de minha tola existência digo: “a verdade é que não existem verdades. A verdade se molda a nossos interesses, mas nunca se descortina por inteiro”. 

Não sei por que fico dando sentido novo a poemas esquecidos, mas é isso o que faz com que tudo me faça sentido. 

Busco o que todos buscam;
Encontro; 
Toco;
Volto a sentir esse vazio cósmico no meio umbigo.   

Marcos Martins.