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sábado, 29 de junho de 2013

Mais sobras


MAIS SOBRAS



Continuo a gostar dos poemas que sobram no papel - não tem jeito -, daqueles que escorrem por entre as pontas dos dedos, como se fossem cavalos selvagens em busca de pastos, e fazem a conexão entre o cérebro e o papel. Até flerto com as rimas, com as métricas e estilos, mas só me deito com os versos livres, os de maiores períodos, com um ponto que não finda nada.

Gosto do poetar errante, daqueles que perturbam os recatados. Amo Florbela, mas é um amor contemplativo, prefiro mesmo é deitar com os versos sujos do velho Bukowski e fazer orgias, desprevenido, com todos eles. Prefiro ser bolinado pelas consoantes das poesias de Walt Whitman e me sentir vivo, me sentir nu, parte de algo maior que não se importa com minha pequenez, mas me deixa Ser e Estar.

Amo, incestuosamente, meus versos, pois é parte de mim, parte de meu livro biográfico do por vir, do que sou; de partes de mim que ofereço em holocausto a você.

Mário de Sá me falou em um sonho tempestivo certa vez:

- Continue a escrever dessa forma. Com alma.

O velho Buk se revelou a mim numa noite de bebedeira, de vinho barato, enquanto tentava criar um soneto, e gritou:

- Vai desistir de escrever com verdade, seu filho de uma puta!

Meu analista, apenas escuta tudo e escreve um romance pulp, gótico e obscuro, com minhas confissões e ora em silêncio para que consiga vender ao menos um livro para os nãos parentes. E Florbela? Ah, doce flor, mostra-me as panturrilhas tatuadas com poemas haiku, num ato desesperado de me salvar a alma. Não tenha pudores.

Não tem jeito, forma, troqueu, iambo, dátilo, anapesto, dodecassílabo ou epopeia que me faça mudar a essência. E dessa forma terei que errar pelo mundo, por sentimentos que exalo em meus versos - quebra-cabeças que não se encaixam -.



Marcos Martins.



OBS.: essa é a continuação da poesia "Sobras", que está em meu blog.

Quem quiser lê-lo: http://migre.me/fdONv

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