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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Poesia bandida


Poesia bandida


Sou um poeta que nunca amou de verdade;
Nunca foi acariciado de verdade;
Nunca beijou uma boca verdadeiramente.

Beijei apenas bocas pagas, é, tive que pagar por amor, mas na verdade era por pena, pena de mim, pena de minha vida, meus fracassos.

Enquanto o mundo escorria ladeira a baixo, eu escrevia, escrevia e escrevia coisas sem sentido; coisas que tinha que dar um sentido; coisas que ninguém entendia e, por isso mesmo, torciam o rosto para mim.

Sou um poeta que odeia as rimas, que odeia qualquer tentativa de métrica na poesia, mas não sabe amar, pois o amor tem rima, ritmo, carícias espontâneas. Não se aprende o que não se teve; não se viveu. Talvez Baudelaire me entendesse, quem sabe.

Nunca vou morrer por amor;
Nunca vou sofrer por amor;
Nunca vou sorrir sem sentir dor.

Sou o poeta que não grava suas poesias, que não sabe fazer performances para declamar seus poemas, apenas leio e ponto. Leio, leio e leio, mesmo sem entender, mesmo que não faça sentido a outrem. O mundo deixou de fazer sentido desde ontem. 

Sou o poeta que sempre se perde eu sua louca e tola razão do poetar. Mas vou continuar a fazer meus versos, mesmo sem nunca ter provado o amor desses versos, mas há dor, essa dor contida e escondida nas entrelinhas, delas sou cúmplice.

Sou eu esse poeta que só sentiu gosto de saliva em todas as bocas que pagou para deflorar, que sabe, como ninguém, o que é sofrer pelo que nunca se teve da forma como se deve ter: verdadeira, pura. 


Marcos Martins.

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