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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Um norte


Um norte

Ao norte não há sorrisos coloridos para me fazer perder o medo de andar em cacos de vidros, porque nada me obriga a entender o que não quero e assim todos vivem felizes.

Quero dois copos com trigo e um cavalo branco sem arreios para monta-lo em pelo e cruzar o sol em um único lampejo (frases que tiram o fôlego são as melhores para serem ditas em voz alta, nos faz sentir vivos).

Mar e adentro, solidão me deflora (frases que não precisam se explicar).

Ao norte, observo mulheres-peixe que me chamam com seus cânticos. Tolas diabinhas, não sabem que feri a ferro em brasa meus tímpanos para nunca mais ouvir os seres vivos.

Agora só preciso de uma faca amolada para cortar as pálpebras e deslumbrar uma nova forma de enxergar o que a senhora razão, já de costas curvadas, tirou de meu espírito juvenil.

Ao norte tudo pode. Nada é culpa. Nada se é obrigado a fazer ou a aceitar para não se ter danação eterna.

Ao norte, logo que chegar me sentirei forte, não vou mais chorar porque estarei em casa, estarei entre os meus e nunca mais darei sorrisos falsos em fotos de família. Nem precisarei acreditar no que você acredita. Serei homem-livre, poderei finalmente amar e não temer a mão da criação, que só me afagara se assim eu desejar.

Ao norte, sempre ao norte, mas porque escolhi, não por ter sido obrigado a escolher, por temer iras eternas (desculpas para se fazer chorar quem a muito já sangra).

Ao norte, vejo um norte.   


Marcos Martins.                     

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