"A morte sempre sopra no ouvi dos vivos antes de matar o corpo..."
Era um dia lindo, crianças nascendo, noivas casando, batizados, muitos batizados e risos de alegria.
Mas como sempre existe um “Mas” em tudo, Nem tudo era perfeito.
- Não posso fazer mais nada, tudo está acabado.
O rapaz toma o maior número possível de comprimidos, engoli tudo e se deita em sua cama, com uma linda colcha cor de sangue vivo, minutos depois começa a se contorcer e a babar e, como quem tenta falar alguma coisa depois de cair com as costas ao chão, ele fica se esticando todo, olhando para o teto do quarto até seus olhos não apresentarem mais vida. Está morto. E por uns instantes tudo é escuridão absoluta e calmaria, mas na vida sempre vão existir os “Mas” e na morte também.
- Onde eu estou? - Pergunta o rapaz conseguindo sair de sua escuridão.
- Você não está nem no céu, nem no inferno – responde o ser meu homem meio animal alado.
- Quem é você? E o que eu estou fazendo aqui? – pergunta o rapaz meio perdido, olha para o horizonte infinito.
- Você não percebe o que aconteceu? – pergunta o ser.
- Eu estava no meu quarto e aí... Eu estou morto! É isso! Eu morri!? Achei que fosse falhar – diz o rapaz com um sorriso sombrio no rosto.
Ele não sabia, mas sua jornada só estava começando.
- E como foi meu enterro? Acho que não foi ninguém – falou.
- É você não tinha muitos amigos – disse o ser.
No céu, estavam travando uma longa batalha que já durava milênios, demônios tentavam invadir e destronar Deus. Os anjos estavam perdendo a batalha, então homens também tinham que lutar. Homens e anjos se misturavam, asas e lanças se misturavam dor e lágrimas se misturavam.
- O que terei que fazer? – perguntou o rapaz.
- Terás que lutar, para poder ficar livre – respondeu o ser.
- Mas, aqui eu sou livre, não sou? – Perguntou.
- Não, não é. Você foi convocado – disse o ser.
Convocado, mas eu estou morto e estou no céu, não posso ser convocado aqui – disse o rapaz com um espanto em seu rosto.
Então, o ser meio homem meio animal começou a lhe explicar as regras do caos.
- Você tirou sua própria vida, sua alma estará condena ao tormento eterno, Deus lhe está dando uma chance, se você lutar por ele, sua alma será salva, se não...
- Quer dizer que ou eu luto, ou vou para o inferno – interrompeu o rapaz.
- Não, você vai para um lugar pior que o inferno – respondeu o ser abrindo suas asas.
- E se eu morrer aqui? Não posso morrer aqui não é? – perguntou o rapaz.
- Sim, aqui se você for destruído, vira infinito, vira poeira, se junta ao nada, ao caos – respondeu o ser com um brilho no olhar.
- E como se mata o que já está morto? – perguntou o rapaz.
- Aqui nesse instante você não está vivo, você acha que esse é seu corpo, que está com essas roupas, que agora está respirando. Tudo está em sua mente.
O rapaz ficou intrigado e com medo, apertou as mãos e perguntou ao ser.
- Então quer dizer que se deceparem minha cabeça viro nada – falou o rapaz com a voz tremula.
- Sim – respondeu o ser.
E nesse momento um clarão se formou, um estrondo cortou o céu e as nuvens ficaram da cor de sangue, ouvia-se choro de crianças, mulheres gritando e gritos horríveis de agonia e tormento, o rapaz sentiu um calafrio e o medo lhe paralisou todo o corpo.
Bestas aladas rasgavam as nuvens, uma carruagem com cavalos em chamas corria por sobre as nuvens, eram guiados por uma besta metade homem, metade pássaro de olhos negros e mortos, ele erguia a mão e de súbito uma legião de demônios, com seios de mulheres e genitálias masculinas, apareceram rasgando tudo e todos que estavam em seu caminho, não poupavam nem as crianças. Os anjos voavam com lanças em direção ao exercito de demônios, raios e trovões se espalhavam num barulho ensurdecedor. O paraíso estava em guerra.
Onde o jovem se encontrava era belo, flores perfumavam o lugar, árvores enormes davam sua graça, cachoeiras com águas cristalinas, rios cheio de vida, De repente, ele olha e observa que em sua direção vem uma espécie de infantaria; cavalos com cabeças pegando fogo servem de montaria para homens sem olhos, catapultas são armadas e são lançados fetos ardendo em chamas de mulheres que abortaram.
O ser pergunta ao rapaz de que lado ele pretende ficar.
Do lado da justiça – responde o rapaz.
- Então vá para o outro lado – diz o ser.
O rapaz fica espantado e lhe vem um aperto no coração.
- De que lado você luta – pergunta o rapaz.
- Do lado do ser mais puro que Deus já vez, Lúcifer! – responde o ser.
O rapaz fica atônito, não sabe o que pensar, em toda sua vida ele imaginava que o diabo era um monstro, um ser feio aos olhos humanos.
- Vejo que você não aprendeu nada, humano tolo – diz o ser com ar de superioridade.
- Esse exército de demônios que você vê, não é de meu senhor, e sim de teu Deus, ele despreza os suicidas e fetos que são abortados, eles não servem para sua vaidade – fala o ser com ódio nos olhos.
- Não! Não pode ser...! – fala o rapaz com os olhos em pranto.
- Sim! Esses seres alados que você vê; e essa infantaria que vem em nossa direção é de teu Deus – diz o ser abrindo suas asas e demonstrando imponência.
- Prefiro que corte minha cabeça, a ficar do teu lado demônio, que Deus te perdoe as ofensas e tenha piedade de tua alma – responde o rapaz erguendo o punho fechado.
- Se é assim, não tenho outra escolha - fala o ser desembainhando sua espada.
O brilho da lamina cega por alguns segundo o rapaz.
- Vai! Faz o que tem de ser feito, eu prefiro virar o nada a te seguir. – fala o rapaz abrindo os braços, aceitando assim sua sentença.
O ser não hesita, e corta-lhe a cabeça em um só golpe, caindo assim o corpo do rapaz ao chão.
O ser profere um grito medonho e sai voando, em seguida chegam ao local dois anjos.
- Chegamos tarde, o aliciador esteve aqui antes – comenta o anjo.
- Pobre homem, não teve tempo de saber a verdade, só a verdade vos libertara. – diz o outro anjo.
Na terra, outra criança acaba de nascer.
- Da próxima vez chagaremos a tempo? – pergunta o anjo ao outro.
- Não sei, mas até lá, espero que ele tenha uma vida apreciável, essa é a terceira vez que o perdemos, não podemos falhar mais – responde.
A vida sempre sobra em nossos ouvidos palavras inaudíveis, antes de nos deixar viver.
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