acompanhar

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Trecho de meu livro Poemas Sucidias - Diário de um Moribundo



SOLIDÃO E RUÍNA


O que eu fiz meu Deus? Não posso viver sem ela! Não posso! Sem ela não! Tudo menos isso, me tire os sentidos, o censo do ridículo, a natureza que ainda tenho, menos Ruth, menos meu anjo!
Não sei mais o que fazer! Não tenho mais minha base, minha segurança, não tenho mais nada, agora estou só por completo, agora estou deserto, agora sou eu por inteiro.

Me olho no espelho, em pleno meio dia, não sei que face é essa, não conheço você reflexo, quem é você por trás do espelho? Me deixe entrar, me deixe fazer parte de você, ouço os mortos, eles riem, debocham de minha natureza frágil, me deixe entrar, me deixe entrar! Eu posso ser seu escravo, posso ser seu companheiro, posso ser seu amante, me deixa entrar!

Pardais mortos enfeitam minha janela, vou colocá-los numa caixa para dar-lhes um funeral mais humano, vou enterrá-los, para ter de quem lembrar, para ter motivos para orar. Faz tanto tempo, parecem séculos, eterno tormento momentâneo, voraz é teu ataque e afiada é tua língua.

Gostaria de ter uma flecha, uma bem longa, bem afiada é só o que me falta, nessas horas só uma flecha bem afiada poderia conter a hemorragia.

Quero gritar, mas não tenho forças, não tenho forças para mais nada, o que me difere de minhas fezes, é que eu fico e elas se vão, adeus; até tu me abandonas! Ingrata, te fiz e me deixaste!

Uma cruz me seria útil, mas não tem anjo aqui, o que me resta? Não tem ninguém para me pregar. Uma corda seria útil, seria sutil, seria magnético. Qual será a cor da baba de um zumbi? Em breve saberei.

Se eu tivesse ouvido todos aqueles conselhos valiosos, a vida não me estupraria tanto, mesmo que ponha devagar, me incomoda ser penetrado.

Tenho que conseguir diversão, um pouco de fantasia, um pouco de ilusão, não seria tão mal, um pouco de adrenalina em minhas veias, um cheiro de pecado em minhas narinas, uma coroa de rosas, rosas murchas...

Não tenho forças para me vingar do mundo, seu puto sujo! Ou eu lhe sujei com meu transpirar imundo, quem vai me dizer? Quem vai me calar?

Já estive feliz, por mais falso que fosse, eu não ligo mais, eu não minto mais para mim, sou dejeto, detrito, sem anjo, sem espírito, que se dane!

Sinto falta do medo do amor que sentia contigo, sinto falta de sentir que até um moribundo pode se sentir vivo; sinto falta de teus mamilos, teus lábios, teu clitóris quente como o inferno e lindo como o céu, quero rasgar o céu, quero apagar o inferno, quero você por perto, quero você em mim, cansei!

Matem todas as putas! Suas imundas, sedutoras do mal, bestas a solta, perdição! Maldição! Queimem todas essas putas! Mas deixem Ruth, por favor, deixem Ruth! Não vou conseguir sem ela, sem meu anjo que chora, me desculpa e volta por essa porta, volta agora! O silêncio é minha resposta.

Minha paranóia, você é minha paranóia, você é meu medo. Sem minha metade nada sou. Um escritor sem dedos! Sem fala! Sem língua! Sem rimas boas! Sem vida!

Vou para o meu mar de impossibilidade, vou me afogar, vou nadar um pouco e depois me afogar.
Vou cuspir meu coração fora e dar a quem me pedir esmolas, não me importa mais, não o usarei mais, de que adianta um eletrodoméstico quebrado a não ser para juntar ratos e baratas.
Gostaria do abraço de meu pai, meu pai; não há mais nada a ser dito, nunca tive seu abraço - mesmo quando me entregava a ti, nunca tive uma demonstração de carinho - mesmo quando me expunha a ti, nada de afago - mesmo quando me sentia junto de ti, mesmo quando achava estar protegido.

Não culpo mais Deus, sei que a culpa foi tua, não sei se te odeio ou me odeio por achar que posso te amar, me desses um coração triste e forte para suportar toda dor, quantas cicatrizes, nem conto mais só as deixo lá, aqui em meu peito, aqui em sangue não coagulante corre um pouco de você.
Já posso sentir o efeito, já posso sentir esse calor acolhedor em meu peito. Quantas luzes lindas nesse quarto escuro, que lindo esse arco-íris de uma única cor, posso correr e atravessá-lo, o que serei do outro lado?

As fadas me dizem que estou cada dia mais perto delas, mais perto do que sei que vou ser quando perder meu juízo.

Eu perdi, eu sei que perdi, não sei como recuperar; não sei o que faço com meu coração quando ele empretecer de tanta tristeza, uma reconciliação seria bom, seria sublime, nunca vivi o sublime.
Acho que ela não volta, vou deixar a porta entreaberta, vou deixar minha última esperança de guarda. Falhas! Falhas! E mais falhas!

Esqueci algumas palavras, não me importo mais com elas, não seriam ditas de qualquer forma, anuladas de minha mente elas ficaram bem, ficaram livres.

Fiz um lixo triste hoje que não intitulei, não valia a pena intitular, é tão triste e real que me dá medo, eu sei que tenho as chaves, temo tanto usá-las, ainda mais agora, meu lixo poético, minha melancolia expiradora, minha overdose poética...

Nenhum comentário: