Ali
Vou ali. É ali, na esquina queimar mais um sem voz que
grita a toa.
Vou ali. É, vou ali, na penumbra, buscar corpos ocos
de tanto lhes dizerem que são nada – luz fraca que rasga a madrugada e bem nunca
me faz.
Sim, vou ali. Ali. Na esquina, onde homens se devoram
por um prato de passarinha, por um tubo de cachaça, se digladiam – palavra
linda que descreve de forma camuflada a desgraça.
Vou ali, é ali, naquela esquina onde Bil mijou ontem e
nenhum cachorro mais quer mijar.
Vou ali, é, ali, na esquina onde putas ganham a vida –
arriscando a vida –, labutando para tomar um pedaço de pão das mãos do diabo que
sempre sorri antes de machucar.
É, vou ali naquela casa, que fica naquela esquina,
perto daquele poste, que dá pra quela outra esquina, dentro daquele vazio que a
todos consola.
É. Vou. Já não posso mais ficar. Vou me lançar na
selva de pedra sem Deus.
É. Vou. Ali naquela esquina onde tudo é permitido. Mas
tem que ser por baixo das saias das virgens, sem que ninguém veja, do contrário
é errado.
É. Vou ali naquela esquina, onde me perdi em uma tarde
de um dia sem data.
É. Vou ali. Na esquina
dentro de mim.
Marcos Martins.
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