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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

SINAPSES


SINAPSES


Hoje eu quis morrer por fora, já que estou morto e decrépito por dentro desde mil novecentos e noventa e três – ano que descobrir que não se deve sonhar.

Tudo acontece de forma fugaz, dou um clique e vejo todas aquelas fotos felizes; todos aqueles sorrisos felizes que nunca vou dar; todos aqueles lugares que nunca vou estar; todos aqueles quatro mil novecentos e noventa e nove amigos que nunca vou ter; todos aqueles momentos aprazíveis que jamais irei participar.

Hoje, eu quero morrer, não quero mais viver nesse mundo onde todos fazem revoluções pessoais, onde todos têm argumentos rasamente irrefutáveis para tudo – Ingmar Bergman tinha razão, por isso morreu de forma tranquila.

Cansei de tudo.
Cansei das coisas.
Cansei de ter os ossos quebrados e o espírito dilacerado – sorrir já não me conforta mais – sorrir me maltrata, me deixa com escoriações faciais.

Hoje, eu quero desistir, estou tão sem forças, quero sentar e ficar petrificado (Vem Medusa e flerta comigo).

Não quero mais ser notado, apenas quero sentar e ser esquecido até não mais existir, até não saberem distinguir se já vivi ou se fui um déjá vu esquecido.

Aqui, deixe-me aqui e vá. Vá! Pois não tenho mais vontades, tudo é tão clean no mundo dos bits; tudo é tão cinza no meu, onde as polaroides estão extintas, onde o concreto não faz sentido, onde sorrisos não fazem mais sentido, onde crianças mortas em guerras santas nunca fizeram sentido, onde o verbo “amar” é conjugado sem sentido, onde o verbo se fez carne e não mais parou de sangrar.

Não morro,
Não me sinto vivo,
Me machucam todos os olhos perdidos.
Carne que sangra, sangra sem sentido.
Não morro,
Não me sinto vivo.



Marcos Martins.

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