SINAPSES
Hoje eu quis morrer por fora, já que estou morto e
decrépito por dentro desde mil novecentos e noventa e três – ano que descobrir
que não se deve sonhar.
Tudo acontece de forma fugaz, dou um clique e vejo
todas aquelas fotos felizes; todos aqueles sorrisos felizes que nunca vou dar;
todos aqueles lugares que nunca vou estar; todos aqueles quatro mil novecentos
e noventa e nove amigos que nunca vou ter; todos aqueles momentos aprazíveis que
jamais irei participar.
Hoje, eu quero morrer, não quero mais viver nesse
mundo onde todos fazem revoluções pessoais, onde todos têm argumentos rasamente
irrefutáveis para tudo – Ingmar Bergman tinha razão, por isso morreu de forma
tranquila.
Cansei de tudo.
Cansei das coisas.
Cansei de ter os ossos quebrados e o espírito
dilacerado – sorrir já não me conforta mais – sorrir me maltrata, me deixa com
escoriações faciais.
Hoje, eu quero desistir, estou tão sem forças, quero
sentar e ficar petrificado (Vem Medusa e flerta comigo).
Não quero mais ser notado, apenas quero sentar e ser
esquecido até não mais existir, até não saberem distinguir se já vivi ou se fui
um déjá vu esquecido.
Aqui, deixe-me aqui e vá. Vá! Pois não tenho mais
vontades, tudo é tão clean no mundo
dos bits; tudo é tão cinza no meu,
onde as polaroides estão extintas, onde o concreto não faz sentido, onde
sorrisos não fazem mais sentido, onde crianças mortas em guerras santas nunca fizeram
sentido, onde o verbo “amar” é conjugado sem sentido, onde o verbo se fez carne
e não mais parou de sangrar.
Não morro,
Não me sinto vivo,
Me machucam todos os olhos perdidos.
Carne que sangra, sangra sem sentido.
Não morro,
Não me sinto vivo.
Marcos Martins.
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