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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quanto custa seu tempo? (conto)





Quanto custa seu tempo?




Mais uma vez ele saia na correria de casa para não se atrasar no emprego. Pegava seu ônibus como à maioria das pessoas faziam, porém, sempre tinha um engarrafamento, um acidente ou uma manifestação impedindo que chegasse ao trabalho em tempo.

- Atrasado de novo? – dizia o chefe, olhando fixamente para o rolex, falsificado, que costuma ostentar. 

- Sinto muito chefe, foi o trânsito. 

- Se você saísse mais cedo de casa, talvez isso não acontecesse mais – lhe dizia, rispidamente, o patrão e ia para a sua sala ver pornografia até à hora do almoço. 

Para chegar ao emprego ele tomava um ônibus e o metrô. Se tudo corresse bem gastaria 35 minutos de ônibus e 19 minutos de metrô para chegar ao centro e 15 minutos de caminhada até chegar ao trabalho, mas nada correia bem e sempre se atrasava.

Começou a perceber, quando chegava à estação do metrô, que a hora que o relógio digital do seu lado da estação marcava sempre 2 minutos a mais, em relação ao sentido subúrbio. Se o relógio, no sentido subúrbio estivesse marcando 8h30 da manhã o no sentido cidade marcava 8h32 da manhã. Isso o deixava intrigado e até um pouco revoltado, pois sempre lhe dava a sensação de que nunca chegaria a tempo em seus compromissos.

Para não se atrasar mais resolveu comprar um relógio e acertar às horas de seu relógio pela hora do relógio da estação de metrô, dessa forma não se atrasaria.

Acordou cedo, sempre olhando para as horas de seu relógio, tomou seu banho; o café da manhã, ainda enrolado na toalha, terminou de se alimentar e foi por a roupa para ir trabalhar.

- Hoje não me atraso – pensou ao fechar às portas de sua casa e dirigir-se ao ponto de ônibus. 


Saiu meia hora antes do de costume, dessa forma tinha certeza absoluta que não se atrasaria, como se existissem certezas absolutas. Enfrentou mais um engarrafamento, mas dessa vez não se preocupou, pois ao olhar o relógio do pulso viu que tinha 15 minutos de sobra.

Chagando a estação do metrô, foi para o local de costume – entrava sempre no primeiro vagão -, esperar por seu transporte, mas ao olhar o relógio da estação notou que o relógio no sentido subúrbio marcava 7h., da manhã, enquanto o no sentido centro marcava 7h30. Suas pupilas delataram ao verem o relógio da estação e ao coparar com o relógio em seu pulso. Descobriu que os relógios marcavam à mesma hora.

- Como isso pôde acontecer? – pensou.

Agora só lhe restava o rolex, falso, do patrão não estar marcando à mesma hora que os relógios da estação e o que estava em seu pulso. 

- Atrasado novamente? – falou o patrão, antes de dar bom dia.

- Desculpe senhor Serafim – continuou tentando se justificar com o chefe – Sai bem sendo de casa, cheguei a comprar esse relógio para não me atrasar e não sei explicar como isso aconteceu se antes de chegar à estação de metrô, eu estava dentro do horário.

- Saia de casa mais cedo, faça como eu e todos os outros funcionários fazem – falou e foi logo para à sua sala atualizar seu perfil nas redes sociais. 

Ele sabia que não adiantava se justificar. Ninguém iria acreditar que o tempo estava contra ele. Pediu desculpas mais uma vez e prometeu que iria fazer de tudo para não se atrasar e que compensaria o atraso descontando de sua hora de almoço.

Na volta para casa, tomou o metrô sentido subúrbio e ao chegar à estação de seu desembarque sincronizou seu relógio e o do seu celular com o do metrô, sentido centro. Agora não tenho como me atrasar, disse para si.

Acordou duas horas mais cedo e saiu uma hora antes do de costumes. - Quero ver eu me atrasar agora - falou e foi quase que correndo tomar seu ônibus. Para a sua surpresa não tiveram engarrafamentos naquele dia.

Chegando à estação de metrô, desceu do ônibus quase correndo, pediu licença para passar na frente de algumas pessoas de outras nem licença pediu, até que alcançou sua plataforma.

- Não acredito! – gritou e todos na estação no sentido subúrbio e no sentido centro olharam para ele que, incrédulo, olhava freneticamente, hora para o relógio de pulso, hora para o relógio de seu celular, hora para o relógio da estação de metrô.

Os relógios marcavam 8h40 da amanhã, ele não entendia como isso podia ter acontecido se antes de entrar na estação ele estava dentro da hora, na verdade estava adiantado e tinha a certeza que chegaria primeiro que todos para dar expediente.

- Nunca vou chegar antes das 8 horas para começar a trabalhar – falou com os olhos marejados.

E assim se passaram dias, meses e anos, sempre correndo contra o tempo e o tempo vencendo-o no final. Sempre que pegava o metrô para ir a qualquer lugar, nunca conseguia chegar no horário marcado. Com o passar dos tempos sentia que não conseguia alcançar nada, sentia-se curto, cansado e passou a andar envergado. Sempre que via um relógio desviava olhar, passou a ter ojeriza pelos ladrões de tempo - foi assim que começou a se referia aos relógios -.

Passou a vagar por todas as estações de metrô, sempre em busca de um relógio que batesse com as horas de seu relógio de pulso e de seu celular, nunca encontro. Por mais que sincronizasse seus relógios com os da estação, era só descer do metro, entre uma estação e outra, que seus relógios ficavam adiantados e ele se sentia atrasado.

Parou na estação central e ficou olhado às horas passarem. Por lá viveu até que se tornou uma sombra e ninguém mais sentiu à sua falta, pois todos estavam sempre correndo contra o tempo para não chegarem atrasados em suas vidas.

Marcos Martins.

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