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sexta-feira, 4 de julho de 2014

MEU ÚLTIMO DESEJO


MEU ÚLTIMO DESEJO


Quantas vidas uma pessoa pode ter em um único dia? – Milhares ou nenhuma.

Minhas pernas não chegaram aonde eu queria, mas é preciso continuar a caminhar, assim como é preciso respirar, alimentar-se, fingir sorrir, fingir se alegrar, sonhar e ter medo.

Mais um ano que se esvai e a poeira do tempo incomodam-me os olhos, que antes estavam tão abertos e agora lutam para não fecharem.

Lembro-me do tempo em que enchia o peito com esperanças por um ano novo melhor, com menos mortes e ódio, com menos dor e mais altruísmo, mais amor ao que não é o meu umbigo.

Agora que mais um ano se esfarela, e logo, logo, todas as rádios entoarão cânticos momescos – para esconder, para por embaixo do tapete todas as coisas não concretizadas, todas as promessas não cumpridas, toda força em vão, tudo o que ficou apenas idealizado em plantas baixas... Eu sei, eu sei, eu sei do outro lado do mundo há algo bom e altivo para todos os que pronunciaram poucas vezes a palavra “Não”.  

Meu último desejo, antes do badalar da aurora que logo vai se apresentar, é não ter mais desejos para meu corpo todo dilacerar.


Marcos Martins. 

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