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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ela


Ela


Ele me olhou no fundo dos olhos;

Ele me deu mais verdades que mentiras;

Ele me disse: Hoje não, quem sabe amanhã;

Ele nunca foi estúpido comigo;

Ele sempre foi amigo, nunca me desapontou;

Ele sempre esteve lá, sempre – esporadicamente -, meu herói cheio de verdades;

Ele sempre guardou meu lar;

Ele sempre falou o que era preciso;

Ele sempre me seguiu até o infinito;

Ele sempre me adestrou;

Ele sempre me disse o que fazer, como se portar, como transparecer (sem ser notado).

Ele sempre me olhou nos olhos e sempre dizia: Nunca se guarde para um longo combate, amanhã você pode nunca mais amar.

Ele sempre me disse para não fazer versos intermináveis.

Nunca julgue, nunca chore, eu sempre estarei lá, sempre estarei lá...

Ele nunca esteve lá, nunca;

Ele não me da mais doces;

Ele não me conta mais estórias;

Ele não tem mais paciência comigo;

Ele não escuta;

Ele não se da chance;

Ele só anda em círculos sem poder voltar.

Não pode voltar, ele não sabe voltar;

Ele não sabe voltar para sua estória;

Ele não rir, ele só chora e sangra;

Ele não pode me dizer mais nada, nem seus questionamentos;

Ele corre, mas sempre se sente no mesmo lugar;

Ele corre e nunca volta ao ponto inicial;

Ele não lida bem com isso;

Ele não volta mais para sua estória feliz;

Ele não a beija mais, ele não a vê mais;

Ele morreria por ele, ele morreria se pudesse;

Ele não se reconhece pelo nome;

E ele quer poder brincar, ele quer poder sonhar, mas, não pode.

Seus lábios estão frios, suas mãos soam, ele quer paz.

Ele não lembra seu nome, ele tenta e sempre fracassa;

Ele já foi tão bom;

Ele quer ser perdoado;

Ele está sempre lá;

Sempre sozinho com sigo;

Ninguém pode consolá-lo;

Ele tem medo do futuro porque o futuro não lhe pertence;

Ele vê anjos no céu e não pode contar nem aos peixes;

Não pode se esconder, não pode fugir do eterno, não tem perdão...

E ficou claro como um clarão na escuridão, e todos diziam: Paz aos enfermos; crucifiquem os indesejáveis. Todos estão bem? Ele só quer brincar.

Crucifiquem o céu e todos os que forem contra seus princípios mais escusos!

Ele sempre teve que pagar para ser feliz;

Ele nunca desfilou numa passarela de miss;

Ele sempre teve amigos invejosos, mas eram seus amigos;

Ele queria ser um cordão umbilical para deixar todos perto dele;

Ele pisa em cascas de ovos;

Ele sorrir com menos frequência, dia após dia;

Ele tem escamas que ardem e exalam um cheiro podre;

Ele quer se enxergar no espelho;

Ele quer ser mãe e nunca abortar;

Ele quer voar e cair com toda força ao chão;

Ele quer ser, quer estar onde ninguém pode estar;

Ele quer chorar de dor;

Ele quer poder chorar por seus erros;

Ele quer amar homens e mulheres sem ser homem ou mulher;

Ele olha pela janela e vê...

Ele pisa em cascas de ovos;

Ele precisa de ódio para sobreviver com amor;

Ele está deitado no chão;

Ele se coça como outro qualquer;

Ele se sente morto;

Ele tem que pagar para ter amigos;

Ele guarda bem seu troféu;

Ele sente muita dor, ele quer ter alguém, ele quer ser, “ninguém”.

Ele estoura por dentro;

Ele não pode fazer nada;

Ele está impotente;

Ele está certo que está errado;

Ele ouve uma bela canção;

Ele se sente fraco;

Ele está vulnerável;

Ele está sem sangue;

Ele está sem pés, está sem poder sentar “está em pé há dias”.

Ele não pode mais reclamar;

Ele está sujo e quer se tocar...

Ele não tem mais um sorriso belo;

Ele odeia Deus, ele ama Deus;

Ele odeia deus, ele ama Deus;

Ele teve seu corpo por vários dias violado;

Ele foi tocado quando não queria;

Ele teve que sorrir quando, no entanto, gostaria de chorar;

Ele sempre aparecia triste em fotos de família;

Ele não controla tão bem mais seus impulsos assassinos;

Ele quer um copo de cólera, de suicídio;

Ele quer vingança, quer queimar toda a cidade;

Ele sente falta de cair em prantos;

Ele sente falta de seus sentidos;

Ele não pode voltar ao inicio do livro;

Ele não pode parar de crescer;

Ele não sabe o que é pior: morrer ou envelhecer?

Ele não tem com quem conversar;

Ele se sente tão culpado pelo mundo;

Ele tem pesadelos com o amor (nunca mais vai senti-lo).

Ele pede tantas desculpas;

Ele chora como criança;

Ele tem medo do brilho da manhã;

Ele teme as estrelas;

Ele pede pelo amor do dono do mundo;

Ele se mutila...

Ele; somos nós, dia após dia;

Ele não se enxerga no espelho;

Ele sente que poderia ser melhor;

Ele matou todos seus heróis;

Ele cuspiu para cima;

Ele sentiu tudo e nada mudou;

Ele sempre, sempre espera por ela;

Ele sempre se preocupa por ela;

Ele, ela, não há sentido que explique porque chegamos até aqui, após ler todas essas linhas imprecisas como a vida.



Marcos Martins.

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