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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Uma das poesias mais forte que fiz: CÂNCER



CÂNCER


Não sinto meus membros  apenas odor;

Não consigo enxergar mais da mesma forma quando jovem. Vejo apenas vultos  fantasmas que me assolam.

Não sinto meus braços. Meus braços já foram tão fortes, agora, agora estão em frangalhos e não servem nem mesmo para segurar um copo com leito morno;

Não sinto meus órgãos, mas na verdade nunca os senti, acho que foi por isso que não me importei com eles como deveria;

Não sinto mais meus pés  apenas frio.

Não tenho forças para cobrir meu corpo – apenas frio.

Não tenho mais paladar, a comida tem gosto de cera, logo eu que adorava coisas doces, hoje só me recordo do amargo;

Não sinto meus dentes, eles caem sem me avisar, como frutas maduras ou podres que caem sem aviso prévio;

Não sei mais se estou aqui, mas estou aqui mesmo sem me sentir.

Não, não quero falar sobre isso, não quero me confessar com um padre, nem quero aceitar Jesus como meu salvador. Quero apenas definhar em paz, poder sentir os minutos finais de minha vida, a vida que me castiga agora (como se fosse castigo o acaso). 

Não sinto meu coração, mas ele ainda bate: Tum tum... Tum tum... Tum.

O que você quer de mim? 
O que meu corpo fez a mim?
Aceitar não é fácil, culpar é.


Marcos Martins.

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