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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Crucificado

 
Crucificado
(Marcos Henrique Martins)

Hoje, acordei cansado. Comecei o dia ansioso pela noite que se recusava me tocar, pois me traria o sono e o sono me levaria ao mundo dos que sonham. Fiquei à noite interia, em claro, com a esperança de ser visitado pelo senhor Morpheus, mas ela já deveria estar dormindo feito um anjo. Fiquei e
m claro esperando por mais um dia de fadiga, dessa sensação de perda e claustrofobia que minha impotência causa.

Hoje, acordei cansado com os olhos inchados de tanto chorar, com a boca seca e a garganta áspera de tanto orar. Pedi, em dado momento implorei, neguei o silêncio, por fim aceitei o vazio.

Hoje, descortinei as entrelinhas da vida, percebi o quão só somos; o quão poeira somos; o quão tolo somos. Existência passiva. Vida cativa, ordeira, que me causa náuseas, este mal estar.

Hoje, pude ver, com os olhos cheios de olheiras, como somos ovelhas nesta terra de raposas, raposas que se camuflam tão bem, fingem ser vegetarianas e adorarem brócolis e espinafre.

Hoje, acordei e por um breve momento não quis levantar. Mas aquela voz dizia-me:
“Vai! Levanta para sangrar por mais um dia.”
“Vai! Levanta para chorar por todos e por você.”
“Vai! Levanta para lutar por teu pão, sacrificado, de cada dia.”
“Vai! Levanta e vai viver a tua vida.”
“Levanta e vai viver, pois na vida não há tempo para lastimar!”
“Vai! Crucifica-te por todos e por quem não te enxerga, nesta multidão ocupada com seus mundos particulares.”

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