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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Você sabe quem é Lula Côrtes?

Lula Côtes e eu só de tietagem


Trechos da entrevista feita com Lula Côrtes por Cristiano Jerônimo
Especial para INTERPOÉTICA com colaboração de Meri Rezende estudante de jornalismo.

Fonte Site: http://www.interpoetica.com/entrevista_lula.htm

Minha homenagem ao cara mais Rock and roll de Pernambuco, e o melhor, assite em Candeias – Jaboatão dos Guararapes – PE.

Faço a corte para Lula Côrtes!



Vida longa para você nessa dimensão meu chapa!

Marcos Henrique.

Lula Côrtes
“Eu pinto as cenas que eu imagino.
E pinto com palavras”

por Cristiano Jerônimo Especial para INTERPOÉTICA Colaborou Meri Rezende

Sem alardes, Luiz Augusto Martins Côrtes, 60 anos, o pernambucano Lula Côrtes, canaliza toda a sua hiperatividade (e haja Ritalina) para produzir, diariamente, pinturas de óleo sobre telas, gravuras de lápis dermatográfico sobre papéis canson e vergê, contos, poemas e músicas. Ainda sobra tempo para dar aulas de pintura gratuita, como faz há mais de oito anos. Seu enraizamento com o litoral do município de Jaboatão dos Guararapes – onde há 16 anos reside de forma itinerante no triângulo Piedade/Candeias/Barra de Jangada – e a sua referência artística no município (Lula já recebeu várias homenagens, entre elas o título de Cidadão Jaboatonense) fez com o prefeito eleito Elias Gomes o nomeasse para o cargo de Gerente de Cultura da Prefeitura, onde trabalha ao lado de Ivan Lima Filho. Mas, engana-se quem pensa que Lula Côrtes se resume a Jaboatão, Recife, Pernambuco. Há pouco tempo, ele foi capa e figurou nas páginas centrais da maior revista mundial do show business: a Rolling Stone (ver fotos). Ao lançar o luxuoso e arrojado livro-conto O Lobo e a Lagoa, em João Pessoa (PB), foi capa de todos os jornais e matéria de página inteira dos cadernos de cultura (ver fotos). Em reconhecimento ao seu trabalho literário, no final do ano passado, ainda sob a presidência do poeta Vital Correia de Araújo, a União Brasileira dos Escritores de Pernambuco (UBE/PE) deu-lhe a carteira de sócio efetivo, retroagindo a ano de admissão a 1972, quando o multiartista lançou o Livro das Transformações. Na ocasião, foi homenageado. Em 2008, ficou no topo das paradas de sucesso de World Music nos Estados Unidos, com o relançamento mundial (por gravadoras da Inglaterra e dos EUA) dos discos Paêbiru, Satwa e No Sub Reino dos Metazoários (com homenagem a Marconii Notaro). Atualmente, divide-se e desdobra-se nas muitas tarefas que escolheu e em outras que o mundo lhe deu como incumbência. Canta com os Bluestamontes Blues Band e a Má Companhia (sua fiel escudeira há 18 anos) e está gravando o CD triplo Tarja Preta, o qual define como “um tratado sociológico sobre a juventude atual, divido em três comprimidos (discos) à base da substância ativa lula córtex”, brinca. Confira, na íntegra, a longa e polêmica, só pra variar, entrevista concedida por Lula Côrtes ao jornalista e escritor Cristiano Jerônimo, em seu apartamento, na beira mar da Barra de Jangada, quase dentro do mar. Não poderia faltar neste bate-bola, os clássicos episódios psicodélicos e surrealistas da vida do cantor, artista plástico e escritor. E mais, revelações surpreendentes da época do regime militar e a mais completa recapitulação biográfica da sua ampla carreira artística.

Cristiano Jerônimo: Como foi o lançamento do seu livro o Lobo e a lagoa em João Pessoa, na Paraíba?

Lula Côrtes: O lançamento foi maravilhoso, numa fundação maravilhosa, na praia do Cabo Branco. O auditório tinha 250 lugares e os 250 estavam ocupados. Até os corredores estavam cheios.

Aonde foi, Lula Côrtes, o lançamento?

Na Fundação Casa de José Américo, na Paraíba, dia 12 de novembro.

Você foi capa de todos os jornais da Paraíba. Na sua opinião, será que aqui em Pernambuco, este mesmo lançamento, renderia uma capa de cultura?

Não, não renderia nada não. Ninguém dá nada não.

Nem pela importância cultural que você tem, de ser pernambucano e de ter várias vertentes artísticas?

Eu acho que isso não interessa muito a Pernambuco não. Eu acho que o “Movimento Cultural” de Pernambuco está voltado pra um monte de caras que vivem trabalhando com as secretarias de cultura, com as leis de incentivo à cultura, que dizem que incentivam a cultura (Nesta entrevista, Lula ainda não tinha começado a trabalhar com Elias Gomes e atualmente, com o prefeito eleito, acredita que é possível oxigenar a cultura de Jaboatão dos Guararapes). Então eles (produtores) vivem mais pra incutir falsas idéias na cabeça dessas pobres pessoas que estão começando aqui. Entendeu? De que eles não são nada. De que eles que estão ligados à prefeitura é que podem. De coisas desse tipo: que são tudo e que vão dar todos os canais pra ele, desde que eles dêem a alma, o trabalho e o dinheiro pra eles. Entendeu? Então Recife anda pra trás por isso. Você chega em qualquer lugar e as coisas tem outra conotação. Entendeu? Isso eu já falei em tantas vezes, em tantas entrevistas que eu acho que é por isso, talvez, que eu não toque nos lugares e que eu nem precise mais disso. Porque é uma coisa tão clara, tão notória, que eu não sei como é que essas pessoas não caem. É um tipo de crime isso. É um crime contra a inocência dos artistas daqui. É um crime contra a idoneidade moral.

Você se refere a quê? Claro que não precisa citar nomes...

Me refiro à obrigatoriedade de qualquer coisa que se faça aqui ter que se fazer através de esmolas da prefeitura, de esmola de leis de incentivo à cultura que pertencem a uma panela que nós todos sabemos dos nomes.

Então, o que precisava mudar aqui, com base nesta sua opinião?

Eu acho que precisava de uma limpeza, precisava de Ajax, um furacão branco, se é que existe. São pessoas viciadas que mudam de governo pra governo, sem ideologia, sem coisa nenhuma. Mas que estão ali agregadas à prefeitura, usurpando os direitos das pessoas de fazerem arte, são sub-seres. Entendeu? São os produtores que não produzem nada, os arquitetos que não arquitetam nada, os escritores que não escrevem. Todos eles estão na prefeitura do Recife. Essa merda vai ficar assim o tempo todo.

Tem um tom de desabafo também nisso aí?

O desabafo é eterno. Tem cinco anos que eu falo isso. Aliás, desde o começo dessas leis. Você veja: em todos os meus trabalhos, eu nunca procurei um apoio de uma lei dessas de incentivo, porque você vai lá e é a mesma coisa de você estar conversando com um poder de traficante. O cara vai te dar oficialmente, você manda seu projeto elaboradíssimo para lá. Se for um projeto pouco rentável, ele diz que não: “Esse projeto é muito pobre, você precisa fazer um projeto mais aprimorado pra gente dar uma carga nele”. Eles chamam de “projeto do caralho” o que vende mais. Eles querem que seja uma média aprovável. Eles fazem isso, eu não.

Fazem o quê?

Por exemplo, meu livro custa 20 mil reais. O cara diz: - eu te libero vinte mil, mas se você me der cinco. Entendeu? O cara vai se virar num livro que custa vinte mil com apenas quinze mil. Pensando que está lucrando alguma coisa, vai ficar endividado. Não vai fazer no nível que ele quer, a coisa que ele queria. E esse alguém vai colocar cinco mil no bolso sem fazer absolutamente nada. Esses são os representantes da nossa cultura. Isso é um negócio.

Você convive com essas dificuldades há muito tempo?

Eu não convivo porque eu não me envolvo com eles. Eu vejo isso acontecer. Eu não entro porque meus trabalhos como você vê, são autofinanciados. A alternativa sou eu mesmo. Eu vendo meus quadros, pego meu dinheiro e invisto no que eu quero pra fazer a coisa no nível que eu acho que o povo de Pernambuco merece.

É por isso que tu não para de pensar e produzir de forma inquieta?

E de fazer, lógico. A Casa da Praia... (um livro de ficção inédito). O povo de Recife merece um trabalho daqueles. Um monte de universitários maravilhosos interessados em artes plásticas, gente informadíssima. Eles merecem ter um livro nas mãos que seja digno que eles possam levar para a França. É uma coisa internacional que foi feito na terra deles. Então eles vão ter orgulho de mostrar aquilo. Mas se eu dependesse da “cultura”, do “negócio da cultura” daqui eu jamais faria um livro no nível que eu faço. Você está entendendo? Eu preciso de pessoas como Patrícia Lima, como pessoas da Bagaço (editora), que entram na coisa, arte pela arte, que vão ganhar o que nós ganhamos. Nós estamos ganhando. Aos trancos e barrancos, nós estamos ganhando. Mas nós estamos ganhando uma coisa de uma qualidade que Recife nunca viu.

Mas vamos voltar a falar do livro O Lobo e a Lagoa...

Eu estou falando exclusivamente sobre o Lobo e a Lagoa. Amanhã às dez horas da manhã, eu tenho uma reunião com o pessoal da Editora Coqueiro aqui em casa. Estarei editando A casa da Praia. Um livro não tão elaborado como O Lobo e a Lagoa, mas de um conteúdo fino. Um livro com um tratamento gráfico interessante, com um corpo interessante de você pegar, porque eu busco realizar muito mais do que esse povo das leis de cultura se propõem a fazer. Sou a favor da lei, mas quando ela serve para estimular a cultura, mas não enquanto estiverem esses negociantes da arte ali dentro. Você tem que se ligar, você sabe quem são. Entendeu? Eu conheço os miseráveis que vivem disso, que vivem da boquinha ali dentro. Estão fudidos, não são ninguém. Não tem nada pra dar. Só tem pra sugar de nós artistas.

E essa questão da panelinha?

A panela é eterna porque eles são impessoais, apartidários. Mudou o governo, mas eles estão lá. Eles vão lamber o ovo do próximo. Não importa a bandeira que o outro segure na mão. Importa o quanto ele tem no bolso pra dar a ele.

Com relação ao artista, existiria preconceito com determinadas pessoas?

Existe porque tem os coniventes com isso. Tem os que vivem já destes esquemas. Estão dentro dos esquemas mais caros, dos cachês mais altos. Pessoas que dão mais alto pra essa máfia. Você está entendendo? É uma máfia. Não tem outro nome. É uma máfia. É o crime organizado da cultura pernambucana. É isso que acontece dentro da cultura.

Lei de incentivo do Recife ou Funcultura do Estado de Pernambuco?

Do estado de Pernambuco. Não estou falando da Lei Rouanet. Entendeu? Não estou falando de uma coisa federal. Entendeu? Estou falando que aqui dentro existe uma manipulação, antiga e está na cara de todo mundo. Todo mundo sabe quem é quem ali. Entendeu? Então, eles não querem uma pessoa como eu. Não querem uma pessoa que diga que você não vai ficar com meu dinheiro, esse é o meu projeto e tal. Eles não vão poder insistir comigo e se sujar comigo, para ganhar dos pobres que vierem depois de mim. E por isso que eu não procuro essas pessoas. E não tenho nada a ver com essa cultura pernambucana. Eu simplesmente sou pernambucano, eu amo minha terra.

Nada disso impediu que saísse o seu audiobook O Lobo e a Lagoa, de excelente qualidade, diga-se de passagem...

Nunca me impediu desde 72, 71. Desde 1969, quando eu fiz o Ávido Vício. A primeira impressão em 69. Mas não existia esse meio de vida. De uma década pra cá, isso virou um meio de vida. Compram carro novo com isso todo ano.

A estética de O Lobo e a Lagoa, no ponto de vista do texto, tem alguma influência da escola surrealista?

Eu não sei escrever. Começa aí a história. Então eu comecei a pintar. Quando eu comecei a escrever poemas e pintar diariamente, eu lia muitas fábulas antigas, o universo infantil. Na época da minha infância não existia televisão, então o grande portal pra imaginação vinha da leitura. Como deveria ser até hoje. Então eu pinto as cenas que eu imagino. Eu pinto com palavras.

No caso de O Lobo e a Lagoa, você escreve as cenas que você vê, mas você pintaria?

É justamente isso. Por isso que eu ilustro também. Porque eu procuro pintar o que eu estou escrevendo e escrever o que eu pinto. Eu toco o que eu pinto, eu pinto o que eu escrevo e escrevo o que eu toco.

Por que não lançou O Lobo e a Lagoa aqui em Pernambuco?

A princípio eu pensei lançar na Livraria Cultura. Mas aí o pessoal da Cultura queria 45% do meu trabalho. O cara queria ser meu sócio sem me dar absolutamente nada. Nem um gole de vinho.

Então isso impediu o lançamento na Cultura?

Eu não estou aqui pra dar de mamar a menino grande. Eu não tenho filho barbado, que bebe todo dia em restaurante chique, para ganhar 50% do meu trabalho.

O que Lula Côrtes está fazendo neste momento, além de dar entrevista, claro?

Um novo livro chamado Retorno ao Jardim do Éden, além destas telas que você está vendo. Também ensaio várias vezes por semana e sempre estou me apresentando na noite.

E você vive da arte que você produz?

É claro. Eu sou Lula Côrtes. Eu pinto, toco e canto. Eu escrevo meus livros. Isso tem um custo. Um custo que eu tenho que pegar do que eu ganho para colocar e produzir mais. Se não, já teria parado há muito tempo. São trinta anos de trabalho, são vinte livros e eu não sei quantos discos, entendeu? Incontáveis. Mas isso não é conhecido dentro de Pernambuco. Você sabe que todo meu trabalho foi lançado na América (EUA) pela Time Lags Records e no Reino Unido pelo selo Mr. Bongo. Um reconhecimento internacional absurdo. Nos Estados Unidos ficou na parada em décimo terceiro lugar. Você está entendendo? Então aqui é incapaz de tudo. O pessoal dar uma nota nos jornais... Não pode dar uma nota nos jornais. Quando os ditos críticos, os historiadores da arte vêm falar sobre meu trabalho, eles não se dão ao trabalho de vir na minha casa e, depois, falam absurdos sobre mim. Infundados, sem nenhuma noção de nada do que estão falando. Em livros, em textos, em revistas importantes tidas como idôneas, de artes aqui. São pessoas incompetentes que vem falar sobre as coisas sem saber. Não se dispõem a pegar um ônibus e vir aqui. Eu terei que pegar um ônibus e ir lá? Eles têm carro lá do jornal. Porque não vem aqui? Dão informação inverídica, escrevendo merda, dizendo que sou historiador de arte. Não sou historiador de porra nenhuma.

A entrevista complete está no site: http://www.interpoetica.com/entrevista_lula.htm

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