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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Na Praça Maciel Pinheiro, vi Deus



Na Praça Maciel Pinheiro, vi Deus
(Marcos Henrique Martins)

Quando o fim do mundo chegar, deixarei um canteiro com flores diversas para que ninguém possa aproveitar seu aroma. Parece egoísmo de minha parte, mas qual ser humano não é egoísta? Você? Eu?

Quando o fim do mundo chegar, poderei descansar a cabeça no chão duro, neste asfalto que guarda segredos, impressionistas, que ruborizam até os querubins.

Quando o fim do mundo chegar, ficarei sentando num banco, em qualquer praça do centro Recife, ou melhor, ficarei sentando na Praça da Independência, que se tornou a Praça da Desesperança, devido ao número de prostitutas, desocupados, desempregados e mendigos que por lá perambulam. Não ficarei na Maciel Pinheiro, pois lá não existe visibilidade e todos já estão mortos para sociedade.

Assistirei todo o pânico dos transeuntes, em meio ao caos, junto com os que vivem a margem da sociedade. Ficarei calmo, pois a desesperança cessará para aqueles miseráveis acostumados com um amanhã sem possibilidades. Me sentirei em casa e apertarei a mão de todos, até darei abraços efusivos em alguns, mas só nos miseráveis que por lá sempre estão.

Quando o fim do mundo chegar, vou rir; chorar, questionar Deus, culpar a ONU, negar meu fim, me reconciliar com Deus e aceitar o fim definitivamente, pois, ao reconciliar-me com Deus saberei que sou infinito. Não é isso que pregam? A negação da impossibilidade. A negação da obscuridade do “fim” com um ponto e a esperança do “fim” com reticências?

Quando o fim do mundo chegar, vou torcer para que tudo, definitivamente, acabe, pois não suporto mais esse mar revolto de possibilidades, essa calmaria que finge chegar, essa humanidade obtusa a qual faço parte, que trai com beijos, que se arrepende com lágrimas de crocodilo, que pede aos deuses que matem sem misericórdia, que pedem aos deuses que tudo acabe, que pedem, pedem e pedem, mas esquecem dos miseráveis que estão na Praça Maciel Pinheiro ao lado da igreja da Boa Vista onde já vi Deus, em um sermão cansativo, cochilar.


***

Ontem fiz um poema em prosa sobre a Praça Maciel Pinheiro (Recife-PE), que está sofrendo com o descaso das autoridades. É prostituição, consumo de drogas e assaltos, tudo à luz do dia, mas ninguém enxerga a Praça. o interessante é que o jornal Folha de Pernambuco também conseguiu notar a praça e fez uma ótima reportagem sobre a mesma. Esse é o poema em prosa que fiz para a Maciel, a praça de minha infância. Era raro o dia em que não passasse por lá e me deslumbrasse com aquele chafariz jorrando água e os bombos que por lá moravam.

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