acompanhar

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Devaneios que reconfortam



Devaneios que reconfortam



Você desejou me ver no chão, sinto muito em te decepcionar amigo.

Não tenho muito que comemorar, mas tudo bem porque ainda posso ver os outros felizes.

O outono chega e fico melancólico, mas ainda posso sentir a chama me consumindo e enquanto existir esse fogo queimando em meu peito saberei que tenho uma pequena chance de voltar a sorrir.

Dez anos se passaram e finalmente cresci, mas o inferno não foi esquecido totalmente. O que fazer?  Odiar a todos?  Odiar o mundo? Odiar Deus? – seria bem mais fácil - Deixo às respostas para os outros, pois meu ônus; comecei a saldar faz tempo.

O tempo é realmente curto - Ontem nem sabia me alimentar sozinho -.

Não tenho muito que comemorar, mas tudo bem porque ainda posso gerar poemas e parir poesias. 

Sou um homem limitado, de inteligência mediana, com uma vida limitada. Mas não precisamos de muito para viver, não é mesmo? Não há muito que fazer nessa vida, mas todos estão dentro do plano, não estamos? 

Quanto mais os dias passam, mais envergado ando, mas tudo bem porque ainda posso sentir a brisa fria que sempre nos reconforta - Ilusões continuam movendo moinhos -. 

Joguei à bússola fora, agora estou, finalmente, por conta própria. E a realidade não é tão distorcida quanto me confidenciaram os impressionistas. Não mais que uma frase desconexa num mundo que tenta achar alguma coerência.

Crescer é doloroso e por vezes te deixa disforme no reflexo do espelho, mas todos têm que enfrentar a estrada e seus demônios interiores. 

Você desejou me ver no chão, sinto muito em te decepcionar amigo, pois a frágil chama ainda queima em meu peito e finais de sonetos ainda me emocionam sem motivo aparente.

Marcos Martins.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Feliz ano morto





Feliz ano morto


Ouço na porta o cântico da realidade - Um coral que canta desafinado todas minhas frustrações do ano que está prestes a morrer. (Afinados são meus infortúnios).

Gostava mais dos anos dos dentes de leite, pois não me pegava em falecidos sentimentos. O único enterro que quis ir foi o que não pude segurar na alça do caixão.

Porque as feridas sempre se abrem um dia antes da morte do ano velho? Essas feridas que me moldaram ao longo dos tempos opacos, por vezes coloridos, esperançosos e confusos.

Imagens circulam aqui e acolá, me enchem, esvaziam-me, acolhem e beijão minhas lágrimas.

Meu corpo continua preso e sou tão consciente disso que sei que não adianta - por mais que sonhe nunca poderei voar com essas asas atrofiadas, que nasceram em minhas costas curvadas. (O nunca é malvadamente infinito).

Gostaria de ter uma agenda lotada para não ter que saldar a morte do ano velho que pari as duras penas – sem anestésicos –, o novo que chega com sua esperança, insuportavelmente, inocente. O novo. Com velhos lobos e novos figurantes, uns não tão novos assim.

Fico em teu velório, meu velho amigo, até o último minuto, até o último segundo em que você povoa a terra. No entanto, não vou segurar tua mão úmida e engelhada, nem corrigir as imperfeições das flores colocadas às presas em teu caixão. Lá fora, gritam por um nome que não é o teu, o teu já se esqueceram de pronunciar.

Feliz ano morto, vida nova;
Feliz ano morto, minha cara alma;
Feliz ano morto, minha fé flácida;
Feliz ano morto, todas as promessas que nunca vou cumprir;
Feliz ano morto, para todos que nesse dia sofrem por ainda estarem cheios de lembranças geriátricas, que lutam para se manterem, inutilmente, vivas antes da meia noite, porém, irão se perder nos labirintos de um corpo novo, de um ano novo, de uma vida esperançosamente confusa.


Marcos Martins.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Transmutar


Transmutar


Poesia marginal;
Poesia que transcende;
Poesia que incomoda;
Poesia que ascende.

Poesia que arranha;
Poesia que desprende;
Poesia que desconcerta;
Poesia que me entende.


Poesia morta não é poesia;
Poesia sem métrica é poesia;
Poesia sem rima é poesia;
Poesia que toca, penetra e faz um estrago dos diabos para todo o sempre.

Poesia, poesia, poesia.

Poesia para quem te quer;
Poesia para quem não te quer;
Poesia para te deixar com os sentidos dormentes;
Poesia para quem te ama; para quem te odeia; para quem te quer ver pulando do firmamento.

Poesia que liberta; que faz chorar; que dá forma a sorrisos de canto de boca; que te faz pensar que vale apena fechar os olhos e seguir sem ter medo de não olhar, porque você sente que sempre estará lá, por mais que seus pés não possam sentir e suas mãos não possam tocar.

Marcos Martins.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Mosquitos chupadores de vida



Mosquito Chupador de Vida


Quantos mosquitos você matou hoje?

Quantas vidas minúsculas se foram para saciar nosso egoísmo?

Quem segurou tua mão hoje?

Quantos anos faz que seguro tuas as mãos frias?

Será que você sabe o quanto sangro para te fazer feliz?

Quem conhece o amor verdadeiro poderia me dar um pouco, um simples gesto já me seria o bastante, já saciara minha orfandade. 

Eu sinto frio, mesmo errando pelo deserto. 
Sinto frio, um frio vindo de longe, vido do cosmo infinito. 
Me descobri e não estava preparado para perder.

Assim como a dor que a lua sente toda vez que vai dar a luz ao sol, meu trauma não tem cura, minha mente não tem cura, escrever não tem cura, mas me acalma e me entristece;

Torna-me um homem; 
Torna-me um ermitão;
Torna-me mais morto; 
Torna-me mais vivo;
Me dá uma existência paradoxal. 

Faz-me chorar, me faz chorar, por favor, essa é a única coisa que ainda me faz sentir-se humano – Drenar-me o sangue, não me faz mais.



Marcos Martins.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PENÚLTIMO DESEJO


PENÚLTIMO DESEJO


Quero uma tesoura para cortar os laços quem me amarram os pulsos. Preciso de uma tesoura bem amolada para cortar essas amarras que me sufocam.

Preciso de uma poesia forte que me preencha e me faça sentir-se menos morto. Mas a morte sempre me ronda, flerta comigo.

Pássaros não cantam felizes em gaiolas, apenas catam para continuarem sendo alimentados, são atores.

Preciso de uma faca bem amolada para cortar os pulsos e libertar esses laços que estão presos a eles, esses laços merecem a felicidade.

Quero, em meu penúltimo desejo, me atirar ao mar para lavar todo meu ser. E no último desejo poder recomeçar sem esses laços que precisam tanto de liberdade, tanto quanto os pássaros que fingem ser felizes atrás das grades que abafam seus cantos, abafam seus pedidos de socorro.

Marcos Martins.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Diário de um Moribundo - Mais um trecho de meu livro (reescrevendo)


(...)

Ruth levantou, era noite, fiquei triste, mas deixei-a partir. A cama vazia me deixou enfermo, me deixou gelado por dentro. Se eu chorar, ninguém vai saber, se eu morrer, ninguém vai notar. Só me resta escrever um de meus lixos para que todos saibam que me sinto morto e finjo estar vivo.


VII


Como me sinto – Solidão -;
Como me sinto – Inquietação -;
Como me sinto – Insegurança -;
Como já me senti – Esperança -.
Como me sinto doente, sem cura. Eu vejo a cura e temo usá-la. Será realmente cura? Ou mais uma falácia no fim do arco-íris? 


***


Como queria ser normal e tirar essa maldição poética de mim, poder sentir de forma normal a vida e não enxergar essas entrelinhas.

Estou com muito medo, pois acho que vou amar. Junto com meus amores sempre chega à dor, inquietação em meu cérebro, coração palpitante, mãos suadas e trêmulas - são mau agouro - Faz tempo que não sinto isso.

Ponho-me a pensar num amor que pode me consumir outra vez, igual a todos os que senti e sofri; igual ao que me arruinou.

Gostaria de estar morto às vezes, mas sinto tanta vida reprimida em mim que me dá pena em saber que sou um morto vivo.

Talvez esse amor que temo sentir me tire do escuro, ou talvez me ponha em cima do muro do murmuro, onde seu eu cair nunca mais me levantarei.

O que gostaria mesmo era de um beijo com gosto de desejo, com gosto de amor, sem o gosto de saliva que sempre senti. Das bocas que beijei apenas uma, não sei, talvez tenha sentido mais que saliva, mais que saliva em meus lábios frios.

Se não me amas, não finja que me deseja;
Se não me amas, não me olhe assim;
Se não me amas, não finja me dar esperanças, me deixe viver triste como sempre vivi.

(...)