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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mais uma parte de meu livro: Diário de um Moribundo (reescrevendo)


(...)

Quando se descobre o motivo, não há mais motivos para tudo isso. Será certo partir sem dar adeus?

Partir no escuro só é seguro quando se tem certeza de luz no outro lado, não tenho certeza, é só a certeza que tenho - À incerteza -.

Não me vire mais às costas, por favor! Não me negue! Sou tão triste e só, sou só eu minha sombra. Olha para mim! Só uma vez, só uma...

...Não quero amor, respeito ou amizade, só um olhar me seria útil, saberia que você me nota, saberia que não sou tão invisível.

O crepúsculo noturno é quebrado, é invadido, violado, não sei como me defender. Estou só e inseguro. Experimento as trevas todos os dias.

Olha pra mim! Só uma vez! Só com um olho! Só com um olho...

...Todos os surdos juntos ouviriam meus gritos e nada de você sinto. Um olhar! Não tem que ser paterno ou materno! Só um olhar...

Não queria dizer isso, mas vou embora, vou pro meu mundo destruído, adeus e não olhe para mim enquanto estou indo, não olhe para mim, eu suplico.

Minha paranoia me deixou louco, me deixou em conflito, tento tanto ser expelido. O dia se aproxima, eu sinto, sei o que devo fazer, eu sinto.

Vou destruir meu mundo, meu mundo imundo e fictício, meu, que não queria que me pertencesse.

Ando pelas ruas e noto todos os rostos felizes, se pudesse os roubaria para mim, mas nada posso fazer e não é justo, não é justo. Vou continuar andando e admirando todos esses rostos felizes, são tão felizes, tão felizes e nem notam o meu tão triste.

(...)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Trecho de meu livro: Diário de um moribundo.


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Quando estamos vivos, o processo de decomposição é lento e doloroso. Esgoto, esgoto, meu arroto, meu corpo, não sinto, sentido, não sinto, abismo, persisto. Eu não sou louco! Estou louco? Meu filho, onde você está? Não lembro mais o rosto do meu filho, meu Deus! Essa foto desbotada é ingrata, não me mostra como ele está agora. Ah! Como queria tocá-lo, como eu queria.

Não o vejo a uns... não sei quanto tempo faz. Há quanto tempo estou aqui? Como será meu rosto agora? Eu temo me enxergar no espelho, temo por todos esses anos. Quem perdeu a noção do tempo não tem tempo para ver às horas. Meu relógio parou há quatro anos. Só agora percebo. Tanto tempo. 

Sempre me sinto um inútil quando sinto o passar do tempo. Não tenho nada do que me orgulhar. Os momentos bons de minha vida estão perdidos. Me toco, já não me sinto.

Quando tudo começou? Não lembro o fim e o começo. Essas palavras são nomes para nossos desapontamentos, desapontamento...

Você já se sentiu estranho? Como se não pertencesse ao mundo? Todos te olham, mas não te notam. Você acha que eles te percebem? Você é anônimo, embora vários olhos te vejam você é anônimo, pois esses olhos não te conhecem, não sabem o que você sente.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Trecho de meu livro, que já venho publicando em meu blog. (ainda escrevendo o danadinho)


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O sol já despontava menos tímido, pessoas começavam a circular com mais frequência e frenéticas passam umas pelas outras sem dar bom dia, sem se olharem nos olhos - quem se importa com estranhos que não estão nos programas dominicais? Carlos segue para a próxima parada de ônibus – “Ser pobre é uma merda”, pensa. Ao chegar à parada, vê algumas crianças cheirando cola - o cartão postal que topo político gostaria de por em baixo do tapete persa - ele fica entretido com a felicidade entorpecida dos garotos de rua e sente uma ponta de inveja, não sabe o porquê, mas se sente um inveja dessa liberdade, por mais faminta e entorpecida que possa ser. Eles podem voar e Carlos preso ao chão, preso a sua vida insípida. 

O ônibus chega, ele sobe, não há lugar para se sentar, vai em pé toda a viagem, mas não acha ruim, dessa forma pode apreciar a vista, as formas, o concreto, o asfalto cheio de emendas mal feitas, os não lugares e pessoas que passam, passam e passam sempre apresadas, quanto a ele, não há pressa, a menos que sua mãe comece a cheirar mal, mas ela está bem guardada, levará algum tempo até quererem enterra-la como indigente. A vontade de estar se dirigindo a outro lugar o toma e um calafrio aponta em suas costas. “Não consigo imaginar como ela está”, diz para si. Não consegue chorar, talvez seja o ônibus, talvez seja a poluição ou um vírus que os países europeus tenham lançado na América Latina, quem vai saber dessas coisas, no entanto, sabe que gostaria de estar sonhando, mas sonhar tem sido cada vez menos permito. 

O ônibus corta a cidade, pessoas sobem, descem, voltam a subir em outros coletivos - nossas vidas passam - e por vezes os motoristas queimam as paradas, então você é privado de descer, de subir, de viver, mas nunca de morrer. Felizes são os que morrem velhos, já lhe disseram várias vezes, mas Carlos não vê vantagens em envelhecer, os velhos só são respeitados por financeiras e essas não têm coração. Envelhecer foi o castigo de Deus para com a maldade humana, era nisso que Carlos acreditava, mas ele amava sua mãe, não a tratava mal, ele amava sua coroa, como a chamava carinhosamente em segredo, apesar de todo o distanciamento. 

O câncer em sua mãe não havia devorado apenas seus órgãos, também devorava Carlos, e Carlos que sonhava em ser vegetariano sabia que, assim como o câncer, não podia voltar e concertar os copos quebrados. A verdade era que sua mãe havia morrido e seu único filho tinha desaprendido a chorar em alguma parte de sua existência.

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Mais trecho de meu mais novo livro. (ainda escrevendo esse danadinho)


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Chegou à porta do quarto da mãe, lembrou que não entrava ali há muito tempo, sentiu a mesma sensação que sentia ao entrar em hospitais, mas não havia tempo para medos, traumas ou remorsos, ele precisava entrar e escolher a roupa que, supostamente, seria a preferida da mãe. Abriu o guarda-roupa e várias possibilidades entre cores clara, escuras e neutras se apresentaram, desejou ter vindo com Julia, mas ela nunca iria à casa de um estranho para escolher com que roupa a mãe dele deveria ser enterrada. 

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mais um trecho de meu livro. (Ainda escrevendo esse danadinho).


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“Preciso de um banho” – falou e foi para o quarto pegar uma toalha e roupas limpas para voltar ao hospital.

Entrou no banheiro, se despiu, olhou-se no espelho da pia, notou que não estava tão velho, mas não era mais um garoto. Perguntou-se por que não sentia vontade de chorar e sim de gritar. Entrou no chuveiro sem descobrir o que era aquilo que estava sentido. Seria medo? Não, medo tem cheiro de urina e ele não estava cheirando a urina e sim a suor.

Girou a torneira do chuveiro e sentiu a água a lhe molhar o corpo, a água não servia apenas para molhar o corpo, mas também para esconder lágrimas, porem, eles não se revelaram. Observou um mosquito pousado no azulejo do banheiro, se tremendo todo, e com um único golpe acertou o inseto em cheio. O mosquito morrera grudado no azulejo. “E assim nasceria um fóssil, se nosso mundo terminasse agora” – falou antes de encher a boca com água e cuspir no defunto com asas.

A água não estava fria, mas também não estava morna e sim aceitável ao corpo remoído de Carlos. “Mães não deveriam morrer” – disse enquanto ensaboava o rosto.

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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Poesia - Macular


Macular


Dê-me as chaves da porta dos fundos.
Não, não quero ouvir seus conselhos valiosos.
Não, não tenho mais para que rezar – estou em paz com o cosmo -.

Quero ter tempo para respirar, essa gravata que me sufoca, essas contas que me sufocam, essas calças, esses olhos, esses sorrisos, essas cobranças, essa porta dos fundos que não abre...

...Escolhas, escolhas, reprovações, reprovações, escolhas.

Dê-me essa chave da porta dos fundos, quero sair por trás, quero viver por trás das montanhas do sucesso, quero ser um pastor de ovelhas sem lã; quero ser um pescador num oceanos sem peixes; quero que essa porta se abra e me deixe sair de cabeça baixa pela vida.

Se arrependimentos matassem, eu seria um mártir, mas eles apenas ferem, eles apensas dilaceram meu tecido adiposo e, por isso, não consigo mais sentir calor.

As ruas por onde não andei;
As casas que temi entrar;
As prisões;
Os muros que nem tentei transpassar;
Pelos fundos da casa posso ser mais feliz. Posso ser feliz.

Agora que tenho as chaves, que abri a porta, não sei se quero sair - me acostumei no cárcere - me acostumei a viver na parte rasa do lago. 

Depois de todos esses anos, o que aprendi foi que poemas entristecem mais do que acalmam a alma, que apertos de mãos podem nos passar mais germes que solidariedade e que fotos de família são felizes quando estão seguras em álbuns empoeirados, dessa forma, ninguém se machuca. E os sorrisos, mesmo os forçados, não são maculados.

Marcos Martins.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Febre do Rato (2011)

Texto fantástico sobre o filme "Febre do Rato", do diretor pernambucano Cláudio Assis, no blog Cooltural, do blogueiro Ademar Júnior. Quem ainda não viu o filme, vai querer ver. Quem já viu, vai querer assistir novamente. 

padrao

O Mangue Beat é um movimento de contracultura que surgiu na década de 90 em Recife, como forma de denunciar o descaso econômico do mangue e a desigualdade social da capital pernambucana. O movimento fortaleceu-se através do músico Chico Science, famoso pela mistura musical do maracatu com hip hop, funk e música eletrônica. A agitação causada pelo Mangue Beat foi tão grande que logo contaminou as artes plásticas, a moda e até mesmo o cinema.

O diretor Cláudio Assis é sem dúvida um dos maiores representantes, não somente do cinema Mangue Beat, como também do próprio cinema pernambucano. Sua carreira cinematográfica é marcada por obras cheias de nudez explícita, palavrões e histórias cruas. Em Febre do Rato, seu último longa, temos todos esses elementos aliados a uma poesia suja e marginal.
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segunda-feira, 1 de julho de 2013

A você


A VOCÊ


Hoje ele estaria completando três anos se estivesse vivo ou viva. Não sei se era ele ou ela, mas sim era vida. 

Como eles conseguem correr tanto com pernas tão curtas? Nunca descobrirei o truque, se é que existe um.

Como eles conseguem sorrir e sorrir e sorrir e sorrir, enquanto o mundo explode? Eu sei; o louco, o monstro, somos nós. E eles não riem para nós, eles riem de nós que esquecemos o segredo de sermos felizes com tão pouco, que esquecemos como foi bom aquele pequeno e terno momento da inocência.

Hoje, ele ou ela estaria completando três anos se eu não tivesse que sair correndo na chuva para esconder as lágrimas. 

Como eles conseguem soltar aquele sorriso gostoso se o mundo explode lá fora? Se tivesse essa resposta, talvez não estivesse escrevendo essas linhas angustiantes.

Três anos a mais, três anos de vida a menos, e a partir de agora risco o número três de minha vida, mas não risco a vida que um dia sonhei em ter em meus braços. 


Marcos Martins.